A pesquisa Ibope/Estado/TV Globo divulgada anteontem mostra que o potencial de transferência de votos de Luiz Inácio Lula da Silva para Fernando Haddad tem um teto relativamente baixo até o momento. Quatro em cada dez eleitores do ex-presidente da República afirmam que não votarão no ex-prefeito de São Paulo “de jeito nenhum”. Haddad é candidato a vice na chapa presidencial petista, mas é apontado como substituto quando o titular for declarado inelegível.
O levantamento mostrou Lula com 37% das intenções de voto, patamar que ele não havia atingido em meses anteriores. Dessa parcela específica do universo da pesquisa, formada pelos eleitores declarados de Lula, metade afirma que com certeza votará ou poderá votar em Haddad se ele for o candidato apoiado pelo ex-presidente.
Outros 11% desse contingente se declaram indecisos ou dizem não conhecer Haddad o suficiente para opinar. E nada menos que 39% rejeitam a hipótese de votar nele. Os eleitores lulistas, porém refratários a Haddad, são prioritários para o PT, que considera esse contingente passível de conquista no decorrer da campanha.
Abordagem
Para medir o potencial de votos de Haddad, o Ibope fez a seguinte pergunta: “Caso o candidato pelo PT, Lula, seja impedido de disputar a eleição para presidente da República e declare seu apoio a Fernando Haddad, o(a) sr.(a) com certeza votaria em Fernando Haddad, poderia votar nele ou não votaria em Fernando Haddad de jeito nenhum?”
Mesmo com o teto baixo de transferência, Haddad pode capturar dos simpatizantes de Lula – e de outros candidatos – uma parcela suficiente de votos para viabilizar a disputa por uma vaga no segundo turno.
Levando-se em conta o universo total da pesquisa, e não apenas os eleitores de Lula, 13% afirmam que “com certeza” votarão no ex-prefeito, e outros 14% dizem que poderiam votar.
Os dois líderes no cenário do Ibope sem Lula são Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede), com 20% e 12%, respectivamente. “Se Lula não for candidato, Fernando Haddad tem potencial para crescer e disputar o segundo lugar com as demais candidaturas”, disse Márcia Cavallari, diretora executiva do Ibope Inteligência.
O desafio, para o PT, é fazer chegar ao eleitorado a informação de que Haddad é o “plano B”, ao mesmo tempo em que insiste na narrativa de que Lula é o candidato do partido.
Parte significativa da população parece acreditar na hipótese de que o nome do ex-presidente aparecerá na urna: quase um terço dos entrevistados pelo Ibope afirmou achar que ele vencerá a eleição.
Lula, porém, é candidato apenas do ponto de vista formal, até que a Justiça Eleitoral barre sua pretensão por impedimentos legais – o petista foi condenado em segunda instância na Lava Jato por corrupção e lavagem de dinheiro, e está preso desde 7 de abril.
Enquanto isso, Haddad, a menos de 50 dias da eleição, nem sequer pode se apresentar ao eleitorado como candidato.
Fonte: Estadão Conteúdo