Maçom há 20 anos, o general Antonio Hamilton Mourão, 65, incluiu em sua campanha visitas a templos desta fraternidade de homens que, com pretensões filantrópicas e filosóficas somadas a um histórico de acertos políticos, existe sob ares de sociedade secreta. Apresenta-se como fiador do capitão reformado Jair Bolsonaro (PSL), de quem é vice na corrida presidencial.
O general se mostrou à vontade entre os irmãos, como os membros se chamam, no dia 10 de setembro. Num palácio no Rio, foi aplaudido e recebido pela maior autoridade maçônica no Brasil, Ricardo Maciel Monteiro de Carvalho, o Grão-Mestre Geral –cargo que lhe promove de Sereníssimo para Soberano.
Chegou embalado pelo Hino do Exército (“A paz queremos com fervor/ A guerra só nos causa dor/ Porém, se a Pátria amada/ For um dia ultrajada/ Lutaremos sem temor”).
Discorreu sobre o tema “Desafios de uma Nação”. Outro discurso para irmãos, em Brasília há um ano, rendeu o maior solavanco da trajetória pontilhada por polêmicas.
Na ocasião, o militar disse que seus “companheiros do Alto Comando do Exército” poderiam abraçar uma “intervenção militar” se o Judiciário “não solucionar o problema político” -a corrupção.
Até onde se sabe, Mourão é o único maçom numa chapa presidencial neste pleito.
E isso, o general sabe bem, pode conspirar a seu favor. “O Bolsonaro tem uma campanha que defende Deus, pátria e família, e isso está muito ligado aos ideais maçônicos”, afirmou o vice à reportagem.
No grupo de WhatsApp Maçonaria Operativa, todo dia apita uma nova mensagem a favor do candidato do PSL.
Um membro se dizia “de saco cheio de análises destes ditos ‘liberais’ que dizem ter medo do Bolsonaro porque ele é radical”.
E por que seria? “Por que assume que é cristão e coloca Deus acima de todos?” Muito melhor do que “uma Marina eterna petista, que só aparece como um fantasma de 4 em 4 anos”, ou um “Alckmin, falso opositor do PT”, e nem me venha com aquele “Ciro, um coronel desequilibrado”.
Também não poupou Alvaro Dias, “esquerdista light”, e “um tal de [João] Amôedo”, que “só usa palavras esquerdistas como empoderamento”.
Os encontros se restringem a um grupo de homens, na maioria brancos e de faixa etária mais elevada. Mas o alcance da maçonaria vai além. “É um corte vertical na sociedade que atinge todos os estratos sociais”, diz Mourão, iniciado em 1998 e filiado à loja gaúcha República do França.
A ala gaúcha da maior corrente do país, o Grande Oriente, divulgou em dezembro uma nota em desagravo a ele, afastado da Secretaria de Economia do Exército após dizer que “nosso atual presidente vai aos trancos e barrancos”.
“É lamentável que, em pleno 2017, a liberdade de expressão, especialmente de um militar, seja atacada”, dizia a nota assinada pelo grão-mestre Tadeu Pedro Drago. “Somos 10 mil irmãos engajados na defesa do general Mourão.”
Um engajamento que não é de se jogar fora, afirma Daniel Bortholossi, professor de influências do gnosticismo na maçonaria num curso de pós-gradução de maçonologia. “Como a maçonaria é seletiva e entre seus membros estão muitos formadores de opinião, o envolvimento com causas políticas é inevitável”.
Apesar de muitos maçons preferirem o adjetivo “discreto”, e não “secreto”, ainda há zelo ao apontar quem é quem e quais são os ritos para entrar no clube. Entre maçons ilustres estão presidentes americanos (pelo menos 15 deles, como George Washington), pensadores (Voltaire), músicos (Beethoven), imperadores (dom Pedro 1º) e militares (Duque de Caxias). Em São Paulo, o governador Márcio França e o prefeito Bruno Covas são da Grande Oriente.
Falar numa unidade por candidato A ou B é difícil, mas o antipetismo é um brado retumbante nas reuniões.