O médico Pablo*, 29 anos, chegou ao Brasil em 2016. Passou por Salvador, mas foi em uma cidade na região Nordeste do Estado que decidiu se estabelecer. A pedido dele, o nome do município será preservado. Lá, faz parte do programa Mais Médicos, melhorou o português e casou com uma brasileira. Agora, em novembro de 2018, encarou um dilema: ficar no Brasil ou voltar para Cuba.
Isso porque, até o dia 12 de dezembro, 8.332 médicos cubanos devem deixar o Brasil, após o acordo de cooperação ter sido rompido na semana passada por Cuba, numa reação às declarações feitas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, sobre o programa.
Bolsonaro afirmou que, durante seu governo, somente seria permitida a participação de médicos que fizessem a validação do diploma. O presidente eleito também afirmou que mudaria a forma de pagamento dos profissionais. Eles receberiam diretamente e integralmente os salários do governo brasileiro. Hoje, o equivalente a dois terços da remuneração é entregue ao governo cubano.
Nesta terça, 20, o Ministério da Saúde publicou no Diário Oficial da União (DOU), um edital para selecionar profissionais que queiram aderir ao Programa Mais Médicos. No Total, serão oferecidas 8.517 vagas. Na Bahia são 853.
Os profissionais selecionados irão atuar em 2.824 municípios e 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas, antes ocupados pelos cubanos. As inscrições começam nesta quarta-feira, 21, e seguem até o dia 25 deste mês para médicos brasileiros com CRM no Brasil ou com diploma revalidado no país. O salário líquido é de R$ 11.244,56.
Recomeço
Para Pablo, a decisão de ficar no Brasil acabou sendo mais simples por conta do casamento. “Eu me casei há um ano, mais ou menos, e estou com a residência permanente, ou seja, não estou numa situação complicada. Mas, na cidade onde estou, a maioria dos colegas poderá voltar para Cuba”, conta.
Na Bahia, onde 846 médicos cubanos atuam nos programas de saúde da família, há cidades que devem perder todos os médicos. Esse é o caso de Lafaiete Coutinho, no Centro-Sul do estado, cujos únicos médicos de toda a rede são os dois do programa.
Pablo vai tentar o novo edital do Mais Médicos – mas na segunda fase do cronograma, que aceitará brasileiros formados no exterior e estrangeiros. As inscrições dessa etapa ocorrem em 27 de novembro.
Na primeira fase, somente brasileiros formados no Brasil ou com diploma revalidado no país podem participar. As vagas que não forem preenchidas é que serão destinadas à segunda etapa.
“A dúvida de muitos dos meus colegas é porque a gente continua ativo no sistema. Alguns estão dizendo que não temos como nos cadastrar ainda porque nosso cadastro está ativo, mas vamos ver”, diz ele, que elogia a população da cidade onde vive hoje.
Segundo Pablo, a comunidade é ‘solidária e acolhedora’. “A maioria gosta de nosso atendimento e a gente também gosta de prestar ajuda solidária, de melhorar as condições de saúde do paciente e, assim, ajudar também o povo brasileiro”.