O início da semana é bastante movimentado em Correntina, no oeste da Bahia. É quando os moradores dos povoados vão à cidade para consultas nos sete postos de saúde. Desde novembro, todos ficaram completamente abarrotados de pacientes não por um excesso de procura, mas por ausência médica.
Pacientes começaram a voltar sem atendimento quando os cubanos do Programa Mais Médicos deixaram o município, em novembro. Na última quinta-feira (20), o Ministério da Saúde lançou a segunda convocação de profissionais. Na Bahia, ainda são 176 vagas desocupadas em 110 cidades. Nem o salário de R$ 11,8 mil parece convencer os médicos a irem para as regiões mais pobres e afastadas do estado.
A unidade onde trabalha Silvia Nascimento, no centro da ensolarada Correntina, recebeu, nos seis anos de programa, uma médica cubana. Deixou o Brasil com os outros sete colegas. Silvia, então, precisou adaptar a rotina.
“Estou com dois médicos. Veja, quando a movimentação cresce, eu simplesmente tenho que pedir para o médico atender extra. Isso se o médico quiser atender… a gente precisa ficar adulando mesmo”, diz Silvia.
Na época em que a cubana trabalhou no posto, outros 1,5 mil médicos trabalharam em 363 dos 417 municípios baianos. Era o segundo maior contingente de profissionais no Brasil, atrás apenas de São Paulo. Agora, à espera de novos médicos, a realidade consiste em pressões às autoridades e reclamações de pacientes.
Tudo começa a mudar no dia 21 de novembro, data de abertura das primeiras inscrições do programa, criado para melhorar o atendimento do Sistema Único de Saúde principalmente nos interiores do Brasil. Os cubanos, uma semana antes, deixavam o programa por decisão do país caribenho.
Em todo o Brasil, das 8,3 mil vagas, restaram 2,4 mil, segundo balanço do Ministério da Saúde. Quanto mais afastados das capitais, mais difícil a convocação de profissionais. É o que acredita o diretor de Atenção Básica do Estado, José Cristiano Sóster.
A questão colocada pelo diretor é: como tornar os locais mais afastados atrativos para os médicos? Não há respostas.
As primeiras cidades a terem as vagas completamente ocupadas foram Salvador e São Francisco do Conde, afirmou a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab).
Na outra ponta da pirâmide geográfica e social, Itapicuru, no extremo Nordeste do estado e com o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), sofre a ausência médica.
Das duas vagas disponibilizadas na cidade, com 35 mil habitantes e considerada de extrema pobreza pelo Ministério, uma foi ocupada. Mas, mesmo um profissional pode fazer a diferença num local como Itapicuru.