A ferrugem no cadeado do portão sugere o tempo sem que ninguém entre na Super-base de Panelas, em Catu, a 80 km de Salvador. Ali, vê-se um único cavalo mecânico, parado, e algumas bombas centrífugas submersas (BCS) numa área em que se enxergam pelo menos 18 furos, separados uns dos outros por pouco metros de distância. O silêncio é interrompido apenas pela passagem de um homem numa moto. Se hoje ele não faz ideia de quando foi a última vez que viu algum movimento por lá, nem sempre foi assim.
O reservatório que deu ao campo na antiga Fazenda Panelas o apelido de “super” já não produz como antes, mas chegou a empolgar lá pelos idos de 2010. Aquele ano foi o último que teve uma média de produção superior aos 100 mil barris por dia aqui na Bahia, somando-se a produção do petróleo e o gás natural, no que se chama de óleo equivalente. Foram 102,1 mil barris/dia, mais exatamente, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo Gás e Biocombustíveis (ANP). Apenas 42% disso foi petróleo, o equivalente a 42,8 mil barris por dia.
Ali em Panelas está um retrato da situação de grande parte dos cerca de 2 mil poços de petróleo em operação no estado: são campos maduros – já estão com a sua capacidade de produção em declínio. Se 2010 representou uma melhora, os anos seguintes mantiveram a trajetória de queda na produção do estado que já esteve na vanguarda da indústria do petróleo.
Foi no bairro do Lobato, em Salvador, onde o petróleo foi encontrado pela primeira vez no Brasil, em janeiro de 1939. Até a descoberta do baiano Oscar Cordeiro, a descrença em relação à existência da riqueza mineral no subsolo nacional era grande. Em Candeias, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), encontrou-se o primeiro poço com produção comercial, em operação até os dias de hoje.
A história de pioneirismo da Bahia no setor prossegue com a implantação da primeira refinaria nacional, a Landulpho Alves (RLAM), em São Francisco do Conde. A refinaria às margens do Rio Mataripe, viabilizou a implantação do maior complexo petroquímico do hemisfério Sul, em Camaçari.
Mudança de rumo
Funcionário da Petrobras há mais de três décadas, o diretor do setor privado no Sindicato dos Petroleiros na Bahia (Sidipetro-Ba), Radiovaldo Costa conta que um importante termômetro para verificar o nível de atividade na exploração de petróleo terrestre é a quantidade de sondas em operação. Existem dois tipos de equipamentos, explica: as sondas de produção (SPT) e as sondas de perfuração. As primeiras são importantes para a manutenção dos poços, enquanto as segundas são necessárias para a abertura de novos poços. “Sem sondas, é impossível manter a produção de petróleo”, acredita Costa.
Pois bem, segundo ele, em 2005 existiam 45 equipamentos do tipo SPT em operação no estado. Hoje são 19, o que representa uma queda de 57%. No caso das sondas de perfuração, a redução foi ainda maior. Das 14 que estavam em operação restou apenas 1. Isso significa que a capacidade de perfuração de novos poços na Bahia foi reduzida em aproximadamente 93%.
Radiovaldo Costa explica que o efeito desta desaceleração no mercado de trabalho do setor é direto. Cada sonda de produção necessita de uma média de 35 trabalhadores para ser operada, enquanto a de perfuração dependeria de 80 pessoas. Com base nisso, ele estima a perda de 2 mil empregos diretos, sem contar o efeito em outras atividades envolvidas indiretamente, como transporte, alimentação, hospedagem, além da geração de tributos. Se levados em conta os indiretos, a estimativa é da perda de um total de 4 mil empregos. “O prejuízo para a economia local e para o estado foi violento”, acredita.
A diretora de desenvolvimento de negócios da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Lais Maciel, explica que a quantidade de sondas em operação, além de um importante termômetro para a atividade, é indicador para o futuro.
Lais Maciel explica que o cenário atual decorre de uma mudança de posicionamento da Petrobras, no sentido de priorizar a exploração do pré-sal.
“É compreensível que a empresa descobriu uma grande reserva e tem o interesse de explorá-la, mas precisa ter clareza e transparência nos seus ritos administrativos”, acredita.
O cenário foi agravado após a Operação Lava Jato, quando a empresa respondeu com planos de reduzir o volume de ativos e a decisão de focar na produção marítima, principalmente no pré-sal.
Antes da descoberta de óleo na Bacia de Campos, numa faixa de 100 mil quilômetros quadrados, que se estende entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, a Bahia viveu o seu apogeu. Com médias de produção anual sempre acima dos 100 mil barris/dia, nas décadas de 60 e 70, o estado atingiu 164 mil barris/dia em 1969, sendo 88% deste total de óleo e o restante de gás natural.
Apesar de tudo, o volume de óleo e gás natural nos campos da Bahia ainda é maior do que a produção acumulada que foi retirada nos últimos 80 anos, segundo informações da própria Petrobras. Resta saber quem vai resgatar esse ‘tesouro negro’ no subsolo baiano.
Fonte: Correio24h