Até que a oncologia de precisão chegue à maioria dos pacientes, ainda há um caminho longo a percorrer. Os testes são caros e sequer são cobertos pelos planos de saúde no Brasil. Um painel de GNS, um dos exames que poderia fazer o teste molecular, chega a R$ 8 mil.
O câncer de pulmão é, provavelmente, o tipo da doença em que essa verificação é mais comum, por já fazer parte do diagnóstico. E é justamente o caso do diretor técnico do teatro da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Ailton Ferreira, 51 anos. Baé, como é chamado pelos amigos, convive com a doença há três anos, mas leva uma vida normal. Ele trabalha, vai à praia, corre e ainda toca percussão.
Mesmo sem nunca ter fumado, o técnico descobriu um câncer no pulmão depois de passar semanas tossindo. Diagnóstico confirmado, o paciente foi submetido a 10 sessões de radioterapia e quatro de quimioterapia, sem sucesso. Foi aí que Ailton foi apresentado à oncologia de precisão.
“É feito um estudo do tumor onde se tenta identificar se existe algo que o diferencia dos outros tumores. Quem faz esse trabalho são os laboratórios de patologia, para compreender a biologia do tumor e identificar se existe algo que possa agir de forma específica”, explica Samira Mascarenhas, diretora médica do Núcleo de Oncologia da Bahia (NOB).
A principal diferença para os tratamentos convencionais para o câncer, como a quimioterapia, é a ação direcionada.
No caso de Ailton, foi identificada uma mutação denominada ALK que provocou o seu câncer no pulmão. Para esta mutação já existe uma droga aprovada no Brasil que o paciente usa por via oral. O medicamento custa R$ 37 mil por cada caixa com 60 comprimidos – que atende as necessidades de Ailton por um mês. Ao final dos cinco anos previstos de tratamento, a conta fechará em R$ 2,2 milhões.
Diante do preço, Ailton precisou entrar na Justiça para garantir que seu plano de saúde cobrisse o tratamento. Depois de dois anos com o medicamento, os benefícios são inúmeros.
No Sistema Único de Saúde (SUS) ainda não é possível acessar esse tipo de alternativa, segundo informações da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Quem não tem condição de fazer o teste pode fazer a chamada imunoistoquímica, um teste de rastreamento (screening), que custa cerca de R$ 300. A partir dos resultados desse exame é que se seguiriam para os mais específicos (e caros).
No Brasil, na saúde privada, especialistas estimam que entre 60% e 70% dos pacientes brasileiros com câncer sejam submetidos aos testes genéticos. Na rede pública de saúde, menos de 20% dos tumores de pulmão são verificados desta forma.