Com apenas 19 anos, a ciclista Paola Reis vem se destacando no bicicross. No último final de semana, a baiana conquistou o Campeonato Brasileiro na categoria Elite Women e se tornou a primeira nordestina a conseguir esse feito. “É uma sensação incrível [conquistar o Brasileiro]. É uma honra. Já havia batido na trave no ano passado quando fiquei com o vice-campeonato”, disse em entrevista ao Bahia Notícias.
Apesar do bom momento vivido na carreira, a jovem atleta precisa vencer não só competições, mas também algumas adversidades. Treinando na Pista de Bicicross, na Praia do Corsário, na Avenida Octávio Mangabeira, Paola explica que o equipamento não é o ideal.
“Eu sempre senti falta de um Gate, que é a largada da competição. Aqui em Salvador temos de 1,80m, o que é muito pouco. Um Gate oficial é uma ladeira de 8m, então adaptar em 1,80m é difícil. A gente viaja duas semanas antes para conseguir se adaptar”, afirmou Paola.
Treinador de Paola, Leonardo Gonçalves salientou que muitas atividades precisam ser adaptadas: “O treinamento é sempre adaptado. Às vezes a gente chega à pista e a corrente de vento está muito forte, então temos que mudar a planilha. Normalmente não era para acontecer, mas corre risco de acidentes, então estamos carentes dessa estrutura. Ainda assim, fazemos adaptações das competições, muitas vezes utilizamos as próprias competições como treinamento. Temos conseguido atingir os melhores resultados, mas ainda estamos longe do ideal para uma atleta do nível dela, com a estrutura que ela precisa ter. O diferencial é o talento e a facilidade de adaptação que ela tem”, disse o treinador, que ainda revelou que a atleta precisa ser puxada por uma moto numa ladeira para chegar o mais perto possível da velocidade de um Gate oficial.
Entretanto, até o próximo ano a pista deve ser requalificada e, com isso, Paola terá uma estrutura melhor para treinamentos. De acordo com Vicente Neto, diretor da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia (Sudesb), a pista do Corsário será a “melhor da região Norte-Nordeste”.
“Conseguimos uma emenda parlamentar e vamos requalificar a pista e comprar equipamentos. Vamos fazer da pista da Bahia a melhor da região Norte-Nordeste. O projeto está bom e tenho certeza que no início do ano que vem estaremos com esse equipamento novo”, revelou Vicente Neto.
Com o título brasileiro, Paola somou pontos importantes na briga por uma vaga na Olimpíada de Tóquio, que acontece em 2020. Atualmente a baiana divide a liderança do ranking nacional com a paulista Priscilla Stevaux. O próximo desafio da atleta será o Mundial de BMX, que será disputado entre 20 e 28 de julho, em Zolder, na Bélgica.
“Minha expectativa é sempre ganhar. Meu primeiro objetivo é entrar em uma final, pois é muito difícil. Como é meu segundo ano no Elite, eu disputo contra atletas bem mais experientes, e isso influencia bastante. Conseguindo uma pontuação boa, fico bem mais próxima de conquistar uma vaga na Olimpíada. Será uma honra representar a Bahia, o Nordeste e o Brasil”, destacou Paola.
A baiana ainda revelou que existe uma rivalidade com a paulista, mas lamenta que seja assim. De acordo com a atual campeã brasileira, as atletas nacionais deveriam se ajudar. “Particularmente existe uma rivalidade, uma disputa interna. Mas fico chateada por alguns comportamentos. Dentro da competição é cada uma por si, mas fora poderia todo mundo se ajudar. Consegui conquistar o título em cima dela, e a brasileira melhor se destaca. O que me deixa mais chateada é a forma de que algumas pessoas do Sul tratam o nordestino. Existem algumas brincadeiras sem graça, mas tento levar numa boa”.
Sem muito tempo para descansar, Paola seguirá para Lima, no Peru, após o Mundial. Entre 26 de julho e 11 de agosto a baiana terá pela frente os Jogos Pan-Americanos. Ela confessa que a rotina de treinamentos é pesada, e também precisa trabalhar o psicológico para enfrentar atletas importantes.
“É pesado [treinamento]. Chego a treinar três vezes por dia, quatro vezes por semana. Na minha categoria tem a medalhista olímpica, está sendo minha rival, é uma colombiana. Tem a vice também… Pelo fato de ter muito tempo de BMX, eu era muito fã delas todas. Agora eu corro com elas e isso é muito diferente. Então trabalho o meu psicológico para não ficar nervosa pensando: ‘Ela está aqui do meu lado’”, revelou.
Precisando treinar tanto e sentindo falta de uma boa estrutura, Paola afirmou que chegou a cogitar deixar a Bahia. Porém o apego aos familiares e uma conversa com a Sudesb a fizeram desistir da ideia.
“Cheguei a conversar com meu treinador [Leonardo], estávamos decidindo treinar um período fora, mas eu gosto muito de Salvador, minha família está aqui… Pensei sim ficar um período, mas conversei com o governo e eles estão tentando resolver um jeito de manter essa estrutura. Mas está difícil, pois não é muito boa”, contou.
O diretor Vicente Neto reconheceu a necessidade de fomentar o esporte e salientou que o planejamento passa pelo sucesso de Paola em uma Olimpíada: “Ela é uma atleta que é originária dos nossos programas sociais e temos um carinho enorme por ela. Foi para o alto rendimento, tem um potencial enorme, então achamos que ela é uma possibilidade real de medalha na Olimpíada de Tóquio. Tenho certeza que com essa relação que temos com ela, faremos um trabalho focando na Olimpíada, mas não esquecendo da iniciação esportiva, pois outros garotos também precisam da nossa atenção”.
Apesar do grande sucesso e dos grandes feitos conquistados, Paola quer mais. Ela salienta estar realizando um sonho, mas a classificação para Olimpíada de Tóquio é o objetivo maior.