Dois ataques simultâneos com drones resultaram em incêndios de grandes proporções em duas instalações da petroleira Saudi Aramco na Arábia Saudita, neste sábado, 14.
Os ataques ocorreram durante a madrugada e tiveram como alvo a maior fábrica de processamento de petróleo da Aramco, localizada em Abqaiq, e um campo de petróleo operado pela gigante estatal saudita localizado em Khurais.
A mídia estatal saudita confirmou os ataques e informou que uma investigação está em curso. O comunicado afirmou que já foram controladas as chamas – que criaram uma densa coluna de fumaça que podia ser vista do espaço –, mas não detalhou se houve alguma vítima fatal.
Em uma postagem no Twitter, o embaixador da Arábia Saudita nos EUA, John Abizaid, condenou os ataques. “Esses ataques contra instalações críticas colocam civis em risco, são inaceitáveis e mais cedo ou mais tarde resultarão na perda de vidas inocentes”, escreveu o embaixador.
A Aramco é uma companhia crucial para a economia saudita e os alvos atacados são considerados críticos para a gigante estatal. Abqaiq é descrita pela Aramco como “a maior planta de estabilização de petróleo do mundo”. A unidade processa petróleo bruto que, em seguida, é transportado por oleodutos para regiões no Golfo Pérsico e no Mar Vermelho. Segundo informações da rede Al Jazeera, estima-se que o local processe até 7 milhões de barris de petróleo bruto por dia.
Já o campo de Khurais processa cerca de 1 milhão de barris de petróleo bruto por dia e, segundo a companhia, tem reservas estimadas em 20 bilhões de barris de petróleo.
Os ataques foram reivindicados por rebeldes houthis, que travam no Iêmen uma guerra contra a coalizão saudita, e disseram ter mobilizado dez drones para realizar os ataques.
“Esses ataques são nosso direito e alertamos aos sauditas que continuaremos a expandir nossos alvos. Temos o direito de reagir em retaliação aos ataques aéreos direcionados aos nossos civis nos últimos cinco anos”, disse um comunicado divulgado pelos rebeldes à emissora houthi Al Masirah TV.
Ainda não se sabe os efeitos que os ataques terão na produção de petróleo global. O correspondente da Al Jazeera em Doha, Osama Bin Javaid, alerta para grandes impactos na produção global.
“A Saudi Aramco não é uma empresa qualquer. É uma companhia que move o país. Não sabemos o quanto as instalações foram danificadas, mas isso reduzirá a produção saudita a uma fração do que é hoje. Isso também terá impacto na produção global de petróleo”, disse Javaid, que é autor do documentário “Saudi Aramco: The Company and the State” (“Saudi Aramco: a companhia e o Estado”, em tradução livre).
Apesar disso, não houve um impacto imediato no preço do barril do petróleo, que continua cotado a US$ 60 o barril, valor acima dos US$ 27 registrados durante o colapso nos preços do barril em 2016, porém ainda abaixo da cotação de US$ 100 o barril que no início desta década impulsionou a economia de países produtores como Brasil e Rússia.
A coalizão saudita e os rebeldes houthis travam desde 2015 um sangrento conflito no Iêmen. A guerra no Iêmen também é chamada de “A guerra esquecida”, por ter sido ofuscada por outros conflitos e pela pouca atenção que recebe da comunidade internacional. Segundo estimativas da ONU, o número de mortos no conflito pode chegar a 233 mil em 2020, se os ataques de ambos os lados seguirem no ritmo atual. A projeção aponta que grande parte do percentual das vítimas fatais são crianças, uma vez que ambos os lados miram alvos civis.
As raízes da agonia do Iêmen remontam aos protestos de 2011 da Primavera Árabe. Protestos em massa naquele ano quase resultaram no assassinato do então presidente Ali Abdullah Saleh, que, diante da pressão dos petro-Estados vizinhos, renunciou em 2012, abrindo caminho para a ascensão de seu vice, Abd Rabbo Mansour Hadi.
Um projeto de Constituição apresentado em 2015 propôs a criação de uma federação no Iêmen, dividida em seis unidades, e um parlamento separado entre nortistas e sulistas. Mas o projeto desagradou os houthis, que ajudaram a derrubar Saleh. Os houthis, que seguem a vertente xiita zaidita (assim como 40% dos iemenitas), se queixavam de que, dentre outras coisas, a nova Constituição os empurrava para uma região escassa de recursos e sem saída para o mar. Aliando-se a Saleh, que viu na discórdia uma oportunidade de retorno, os houthis, apoiados pelo Irã, expulsaram Hadi da presidência e de Saná, a capital do Iêmen. Hadi escapou para sua cidade natal, Aden.
Diante disso, a Arábia Saudita formou uma coalizão composta por seus aliados árabes e milícias locais, e com apoio dos EUA. A coalizão conseguiu fazer os houthis retrocederem em alguns territórios. Os houthis são muito fracos para governar o Iêmen, mas muito fortes para serem derrotados pela coalizão saudita. Como resultado, os iemenitas se tornaram peões em uma disputa de poder regional entre a Arábia Saudita e o Irã.
Ali Abdullah Saleh, foi morto em dezembro de 2017, dias após anunciar o rompimento da aliança com os rebeldes houthis.
Fonte: Opinião e Notícia