Uma ferramenta para a análise da aceleração de casos da Covid-19 foi desenvolvida por pesquisadores do Departamento de Saúde e Departamento de Exatas, da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs) e Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
O sistema consiste na adaptação de um software de engenharia, também usado no mercado financeiro, para análise do número de contaminados pelo coronavírus. O artigo sobre o tema foi publicado na revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical.
De modo geral, a curva epidemiológica de casos novos ou óbitos da Covid-19 pode apresentar as fases de crescimento, pico e o momento descendente. Airandes de Sousa Pinto, professor adjunto do curso de Medicina da Uefs e um dos responsáveis por desenvolver a ferramenta, explica que, na forma atual de avaliação, a análise é feita de forma qualitativa sobre a curva mais inclinada.
“A avaliação da inclinação da curva é feita ‘no olho’, de forma qualitativa. A gente vai um pouco além disso, consegue dizer se está inclinada para cima, mas quanto, de que valor. Se chegou a determinado momento aumentando, acelerando e em que momento”, acrescenta o professor.
O modelo criado pelos pesquisadores da Uefs permite o cálculo quantitativo da variação em cada ponto da curva, que tem por característica a mudança constante. Com isso, vai ser possível saber não somente o número de novos contaminados pela Covid-19 por dia, mas também o modo como está acelerando.
“A gente tem um número para comparar curvas em cada ponto. Tenho aceleração em cada dia, e nosso dado permite medir inclinação, força que está descendo ou aumentando. Essa fase ascendente está mais perto do pico? Por exemplo, estou em um carro a 120 quilômetros por hora, mas começo a tirar o pé do acelerador. Ele continua em velocidade, mas a aceleração começa a diminuir. Isso acontece quando casos novos estão aumentando, mas aceleração está caindo”.
Análise em Feira de Santana
Com a ferramenta, Airandes de Sousa Pinto fez uma análise da curva de aceleração de casos da Covid-19 entre 5 de março e 10 de julho em Feira de Santana (gráficos acima). A aceleração de casos foi aumentando até o dia 24 de junho, ponto de aceleração máxima. Depois ela caiu até 2 de julho.
“Aí quando chegou no dia 2 de julho, casos novos caíram. A aceleração foi negativa. Significa que Feira de Santana está na fase descendente de casos, passou do pico”.
O professor, porém, pontua que este é um recorte do momento e não de previsão.
Portanto, mesmo que curva de casos chegue ao pico, ela pode voltar a subir.
“As coisas não estão estáticas. O que está por traz disso é a desigualdade. Uma curva é o somatório de vários extratos. O modelo é para curva final. Se a população tem mesmo comportamento, o modelo é perfeito. Se a população muda, a curva vai mudar”.
Airandes de Souza Pinto acredita que, com os dados reunidos através da ferramenta, gestores terão condição de avaliar, quantitativamente, por números, o efeito de suas medidas, uma vez que pode ajudar na adoção de medidas de saúde pública. O próximo passo agora é tornar a ferramenta mais acessível.
“A gente precisa ver como funcionar. Interesse é contribuir. Eu passei para a prefeitura de Feira de Santana. É preciso modificar a linguagem, melhorar a comunicação e acesso a esse programa para que essas pessoas tenham acesso. É um trabalho feito em Feira, em parceria com UFMG. A ideia é tornar disponível”, afirma Airandes de Souza.
Parceria
O estudo, feito em parceria com pesquisados da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), teve participação de profissionais de diversas áreas, a exemplo do professor do curso de Medicina Edval Gomes dos Santos Júnior, da médica oncologista Lívia Almeida da Cruz e dos estudantes do curso de Medicina da Uefs, Paulo Cesar Mendes Nunes e Matheus Gomes Reis Costa.
“Estudo essa variação de curva há oito anos em cardiologia. A gente adaptou esse programa desenvolvido por Carlos Rodrigues (professor de Ciências da Computação da Uefs)”, conclui Airandes de Souza.
Fonte G1/BA