Algumas regiões da Bahia têm um vento constante, que alcança a velocidade de até sete metros por segundo (25 km/h), condições ideais para a produção de energia eólica. Essa brisa moderada, na definição da Escala de Beaufort, já atraiu para o estado 100 parques eólicos, com potência instalada de 2,6 GW.
Com os resultados dos últimos leilões da Aneel, estima-se que em quatro anos a Bahia vai ultrapassar o Rio Grande do Norte e tornar-se líder nacional de um setor que já emprega 195 mil pessoas em 52 carreiras diferentes, desde instaladores de pás a engenheiros aeroespaciais.
“O potencial de energia eólica no Brasil é de cerca de 500 GW, muito mais do que o País consome atualmente”, afirma Elbia Gannoum, presidente-executiva da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), que não tem dúvida do papel de destaque que o estado vai ocupar no setor nos próximos anos. Com os investimentos já contratados, a Bahia deve ganhar mais 2 GW de energia eólica até 2022.
Líder em geração de energia solar e eólica no Brasil, a Enel Green Power, subsidiária do Grupo Enel, da Itália, considera a Bahia “estratégica” para a atuação da empresa no país. “É o estado em que mais investimos nos últimos anos e o que possui a maior capacidade instalada, considerando os projetos eólicos e solares em operação”, declarou o representante da estatal italiana no Brasil, Luigi Parisi, por meio de nota enviada pela assessoria.
A Enel Green Power opera seis complexos eólicos na Bahia, que somam 706 MW de capacidade. Em fevereiro deste ano, a empresa iniciou a operação do parque eólico Morro do Chapéu Sul, com capacidade instalada total de 172 MW e localizado nos municípios de Morro do Chapéu e Cafarnaum. No final do ano passado, com o resultado do leilão A-6 da Aneel, a Enel adquiriu o direito de construir mais de 108 MW de nova capacidade eólica na Bahia.
No início deste ano, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) divulgou um estudo inédito que aponta 52 carreiras profissionais associadas à indústria eólica. Os trabalhos estão espalhados por cinco áreas de atuação: construção e montagem, desenvolvimento de projetos, ensino e pesquisa, manufatura, operação e manutenção dos parques eólicos. A ABDI avalia que até 2026 haverá cerca de 200 mil postos de trabalho, somando-se todas as atividades.
A Abeeólica estima que, atualmente, cada MW gere 15 postos de trabalho em toda a cadeia produtiva, que está espalhada desde os menores itens necessários para uma torre eólica até os grandes aerogeradores, pás, construção, transporte, planejamento e consultorias. “É uma movimentação do mercado de trabalho em toda a cadeia. No caso da Bahia, como é o estado que mais tem potência em construção e contratada, é natural que haja também uma movimentação do mercado de trabalho local”, diz Elbia.
Emprego e renda
A executiva destaca também que a produção de energia eólica também gera renda extra para algumas pessoas que não trabalham no setor: os proprietários de terra que arrendam suas propriedades para a colocação das torres recebem uma remuneração mensal.
“Hoje são cerca de 6.500 torres em operação no Brasil. Estimamos que cerca de quatro mil famílias recebam ao todo mais de R$ 10 milhões mensais pelo arrendamento de terra”, ressalta Elbia.
Uma questão que, recentemente, causou preocupação entre investidores em projetos de energia foi o pedido de recuperação judicial, em setembro de 2017, da empresa espanhola Abengoa, responsável pela construção de linhas de transmissão da energia produzida em parques eólicos e de energia fotovoltaica.
“A não entrega das obras no prazo planejado impacta seriamente toda a cadeia. O planejamento de construção e operação de usinas, em especial no oeste da Bahia, depende dessas linhas”, afirma Lucas Daltro, dono da Azulare Engenharia, que atua no setor de energias renováveis.
“No passado, isso era de fato um problema. Hoje, apenas vão para leilões os projetos que já tenham linha de transmissão garantida”, diz Elbia, da Abeeólica, para quem não há mais risco de um parque eólico ficar pronto e a linha não.
Fonte: A Tarde