Os hemocentros de diferentes regiões do Brasil estão preocupados com os níveis dos estoques de sangue e de hemoderivados. A atenção se torna maior, principalmente por conta das mudanças comportamentais impostas pela pandemia do novo coronavírus. Por esse motivo, as instituições tentam sensibilizar a população para a importância da doação.
O hematologista Ricardo Temponi Scuotto afirma que, apesar de o País passar por uma crise por conta da Covid-19, todos os candidatos à doação estarão seguros, sem riscos de contaminação por esta ou qualquer outra doença, já que os laboratórios adotam medidas de prevenção eficazes.
“Todas as medidas de distanciamento, evitando aglomeração nas salas de espera foram implantadas. Medidas de higienização também. Há álcool em gel em todos os setores por onde os doadores irão transitar. E, finalmente, a rapidez no atendimento”, destaca o especialista.
De acordo com o Ministério da Saúde, ainda não há números definitivos, mas a estimativa é de que, em 2020, o medo da Covid-19 pode ter causado uma redução de 15% a 20% no total de doações de sangue em comparação com 2019.
Diante desse quadro, Ricardo Temponi ressalta a relevância do ato de doar sangue, já que isso pode ser a única maneira de salvar a vida de outras pessoas. “O sangue e seus componentes não podem ser obtidos de forma artificial ou industrial. A única forma de obtê-lo é por meio da doação”, explica.
Apesar dos esforços, inclusive com a realização de campanhas, no Rio de Janeiro, por exemplo, o Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (HemoRio) registrou um recuo de 4,4% no número de bolsas de sangue coletadas. Em 2020, foram cerca de 78.400 unidades. Já no ano imediatamente anterior, foram aproximadamente 82 mil bolsas.
Já o estado do Amazonas, após coletar 4,6% menos bolsas de sangue em 2020, em comparação a 2019 (51.800 doações contra 54.300), a Fundação Hospitalar de Hematologia e Hemoterapia do estado (Hemoam) começou o ano com metade do volume de estoque considerado ideal pela instituição.
A maior preocupação apontada está relacionada ao volume armazenado de sangue do tipo O+, que representa cerca de 70% da demanda estadual, e com todos os de fator RH negativo, tidos como menos comuns entre a população nacional.
No Distrito Federal, por sua vez, os níveis dos estoques da Fundação Hemocentro de Brasília de dois dos oito tipos sanguíneos mais comuns são considerados críticos. A instituição afirma que nos 12 meses de 2020 os postos de coleta contaram com cerca de 47,5 mil doações de sangue. O valor é menor do que o registrado no mesmo período de 2019, quando o total foi de 51 mil doações.
Quem pode doar
Para doar sangue, o interessado precisa ter idade entre 16 e 69 anos. Os menores de 18 anos precisam do consentimento formal dos responsáveis, caso queiram praticar a boa ação. Além disso, os voluntários devem pesar mais de 50 kg e apresentar documento oficial com foto. Pessoas com febre, gripe ou resfriado, diarreia recente, grávidas e mulheres no pós-parto não podem doar temporariamente.
O Ministério da Saúde informa que o procedimento para doação de sangue é simples, rápido e seguro, já que nenhum material usado no procedimento de coleta é reutilizado. Essa medida impossibilita qualquer tipo de contaminação.
No caso de voluntários do sexo masculino, é possível até quatro doações por ano. Por outro lado, se for mulher, o ato pode ser repetido três vezes, com intervalos mínimos de, respectivamente, dois e três meses. Outras restrições, recomendações e informações podem ser acessadas na página do Ministério da Saúde.
Bahia recebeu mais de 56 mil novos doadores de sangue em 2020
“Não imaginávamos o quanto a pandemia poderia sensibilizar as pessoas à doação de sangue”, diz Fernando Araújo, diretor da Hemoba, sobre número de novos doadores nas unidades de coleta da Bahia. Ao todo, foram 56.517 novos candidatos à doação e 41.302 pessoas doando sangue pela primeira vez em 2020. Somados aos doadores fidelizados, o estado recebeu 106.451 voluntários com o intuito de doar sangue e mais de 8 mil novos cadastros no banco de doadores de medula óssea.
Apesar das doações de sangue total terem caído 10% em 2020 por consequência da pandemia, houve um aumento das doações de plaquetas. Foram 544 doações por aférese em 2020. Em 2019 foram 475 doações. Com o resultado, a instituição conseguiu produzir mais de 103 mil bolsas de sangue e de 270.346 hemocomponentes.
De acordo com Araújo, os dados refletem os esforços de projetos elaborados pela Hemoba durante a pandemia para conter a queda de doadores. “No começo caímos quase 40%. Apesar dos doadores fidelizados saberem da importância da doação e realizarem com frequência, era essencial a presença de novos doadores para conseguirmos atender a demanda transfusional do estado”, completa.
Em 2020, a Fundação Hemoba deu início ao projeto Hora Marcada, com agendamento das doações de sangue por telefone e pela internet, ao projeto Hemoba em Casa, com coletas dentro de condomínios de Salvador e região, e à coleta itinerante nos shoppings Salvador Norte Shopping e Salvador Shopping, com abertura de duas unidades fixas de coleta nos centros comerciais. Além de campanhas grandes com corporações como a Polícia Militar da Bahia (PM-BA), o Comando Conjunto Bahia, o Corpo de Bombeiros, e parcerias com diversas empresas e instituições.
A coleta itinerante, que inclui as unidades móveis, com atendimentos nos ônibus da Hemoba, e nos shoppings de Salvador representou um total de 5.442 doações em 2020. A estudante de biomedicina Ingrid Moura, de 19 anos, começou a doar esse ano motivada pela abertura da unidade de coleta do Salvador Shopping. “Eu moro no Imbuí e sou O+. Então quando soube da necessidade da Hemoba e da facilidade do acesso ao shopping, não pensei duas vezes. Eu gosto de poder fazer um pouco pelas pessoas”, diz.
Doadores fidelizados
Só os doadores fidelizados, que comparecem periodicamente, somaram 11.353 candidatos às doações. Segundo o diretor da Hemoba, esses doadores que “evitaram um colapso na saúde pública do estado no primeiro momento”, porque mantiveram a constância nas doações, mesmo com o isolamento social. “Sem as doações de sangue fica mais difícil sustentar demandas de cirurgias eletivas, urgências e emergências e até situações em que a transfusão é para um paciente agravado pela Covid-19. Somos muito gratos por essa consciência cidadã dos nossos doadores fidelizados”, comenta.
Juventude
Os jovens representaram 49.678 dos candidatos à doação em 2020. Desse total, 38.252 deles estavam aptos e efetivaram a doação. Entre os idosos, por conta do isolamento social, especialmente pela condição de risco, já ocorreu uma queda. Em 2019, foram 2.662 candidatos à doação com mais de 60 anos. Em 2020 somente 1.863 idosos se candidataram. Uma queda de 30%.
No ambulatório da Hemoba, que assiste pessoas com doenças benignas do sangue, como a doença falciforme, a hemofilia e outras condições crônicas de saúde desde 1989, os atendimentos clínicos e transfusões foram mantidos durante a pandemia.
Segundo a médica e coordenadora do ambulatório da Hemoba, Larrisa Rocha, não foram interrompidas nem consultas, nem os procedimentos realizados no ambulatório. “Nos adequamos às normas de segurança. Mesmo com a pandemia, conseguimos executar mais 92 mil atendimentos”, frisa.
Entre os atendimentos, estão os serviços nas áreas de fisioterapia, odontologia e exames clínicos.
Fonte: Brasil 61 e Ascom Sesab