Em 1º de junho de 2020, quando a Conmebol adiou a Copa América por causa da pandemia de coronavírus, o Brasil registrava média móvel de 937 mortes. Um ano depois, 1º de junho registrou média móvel de 1.870 óbitos. Mesmo com o aumento de 99,5% na média móvel de mortalidade, o governo Jair Bolsonaro aceitou realizar o torneio entre 13 de junho e 10 de julho, após Colômbia e Argentina desistirem de sediá-lo.
Apesar dos números já muito altos no Brasil – o país ultrapassou 465 mil mortes pela Covid na segunda-feira (1º) e registrou mais de 70 mil casos em 24h – João Abreu, diretor-executivo da ImpulsoGov, organização sem fins lucrativos de análise de dados dos serviços de saúde pública, afirma que no período em que ocorrerá a Copa América, o país poderá ultrapassar 115 mil casos de infecções por dia.
“Se naquela época [junho de 2020] não era aceitável ter um evento como a Copa América, por que agora, com média de duas mil mortes por dia, é?”, questiona Abreu.
A projeção epidemiológica de 115 mil casos por dia é do painel do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e da Vital Strategies, que utiliza dados da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos.
A projeção é feita considerando os dados diretos e indiretos da pandemia: hospitalizações, registros de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) e dados do Sivep-Gripe, e ainda cruzando com os dados de sintomas e comportamentos relatados por usuários do Facebook.
“Esse monitoramento tem sido muito preciso durante a pandemia. Em média, tem conseguido antecipar em 15 dias os cenários epidemiológicos”, diz Abreu.
O monitoramento também é usado pela Rede Análise Covid-19, que igualmente alerta para uma explosão de casos diários no Brasil em junho caso nenhuma medida rígida de controle de mobilidade seja tomada, como o fechamento das atividades não essenciais.
“A previsão de 115 mil novos casos em um dia durante junho considerou apenas o aumento da mobilidade. Ela não levou em conta eventos superespalhadores como a Copa América nem o surgimento de novas variantes”, observa o coordenador da Rede Análise Covid-19, o cientista de dados Isaac Schrarstzhaupt.
O recorde de infecções no país até o momento é de 97.586 novos casos em um dia, em 25 de março. Na quarta-feira (2), o Brasil se aproximou mais uma vez da casa dos 100 mil novos casos e registrou 92.115 infecções em 24h, o segundo maior desde o início da pandemia.
Fonte: G1