A pandemia de coronavírus acelerou a digitalização do setor bancário. Hoje, esse segmento da economia, extremamente concentrado no passado, vê o fortalecimento de novas empresas digitais e o acirramento na disputa de novos clientes.
Os bancos digitais surgiram com duas propostas básicas: não ter agências físicas e oferecer isenção de tarifas. Com sucessivos aportes de investidores ao longo dos últimos anos, passaram a valer bilhões de reais e angariaram milhões de clientes.
Nas últimas semanas, a disputa por esse mercado digital ficou mais evidente, com o movimento das principais companhias do setor. Elas receberam novos aportes, venderam fatias relevantes para bancos internacionais e captaram recursos no mercado financeiro com o objetivo de fortalecer seu caixa e ampliar a gama de serviços em busca de mais clientes.
Relembre:
- A empresa de investimentos do bilionário Warren Buffett, Berkshire Hathaway, comprou uma participação no Nubank;
- O JP Morgan adquiriu uma fatia de 40% do C6 Bank; e
- O Banco Inter fez uma captação de R$ 5,5 bilhões no mercado financeiro.
“A gente já vinha numa tendência de digitalização, mas ela foi muito acelerada nesse período de pandemia”, afirma Maxnaun Gutierrez, head de pessoa física e produtos do C6 Bank. Criado em 2019, o banco já tem 7 milhões de clientes e está presente em todos os municípios do país.
Um levantamento realizado pelo banco em parceria com o Ipec (instituto criado por ex-executivos do Ibope Inteligência) mostrou que, de fato, durante a pandemia houve uma aceleração nesse movimento de digitalização: 36% dos brasileiros disseram ter aberto algum tipo de conta em banco digital.
A pesquisa também revelou que 57% dos brasileiros com internet já têm conta digital.
Barreira de idade e a busca pelo lucro
Mas, se os números e as recentes movimentações do setor trazem um otimismo, os bancos digitais ainda têm dois desafios importantes:
- Alcançar uma população mais idosa; e
- Apresentar resultados financeiros robustos.
O levantamento do Ipec mostra, por exemplo, que, entre os jovens, as novas empresas do setor bancários já têm uma vantagem. Na população de 16 a 24 anos, 51% dizem utilizar o banco digital como o principal meio para transações e depósitos.
Mas, conforme a idade da população avança, menor é a entrada dos bancos digitais. Entre a população com 55 anos ou mais, a participação dos bancos digitais cai para 10%.
Os investidores também esperam pelos resultados positivos. Parte dos novos bancos digitais já gera caixa, mas ainda não lucra.
“A partir do momento que essa base de clientes cresce, aí, sim, os bancos vão fazer todos os esforços para rentabilizar”, diz.
No Brasil, por exemplo, o Nubank gera caixa desde 2017, já tem uma base de 40 milhões de clientes, mas ainda não apresentou lucro. Mesmo assim, o banco segue com seu plano de expansão para México e Colômbia.
“Em nossas conversas (com os investidores), há um compartilhamento mútuo e alinhamento de que o projeto do Nubank é de longo prazo, com enormes oportunidades e espaços para ocuparmos no mercado latino-americano”, afirma Cristina Junqueira, cofundadora do Nubank.
Em 2020, o C6 Bank registrou um prejuízo de R$ 606,9 milhões. Já o Inter reportou ganhos de R$ 20,8 milhões no primeiro trimestre e conseguiu reverter o prejuízo apurado no mesmo período de 2020.
Fonte G1