Com grandes áreas planas no oeste do estado, a Bahia lidera a produção de energia solar no Brasil. Assim como a energia eólica, essa também é mais uma maneira de ajudar a alimentar e diversificar a matriz elétrica nacional, para evitar a necessidade de apagões em tempos de escassez hídrica.
A energia solar é captada por meio de placas fotovoltaicas, que são instaladas em locais abertos e geralmente de planícies. Para entender como funciona a produção, estocagem, distribuição e geração da energia solar, o G1 conversou com o professor coordenador de pós-graduação em Energias Renováveis do Centro Universitário Jorge Amado, Leandro Carralero
Como a energia solar é gerada?
“Isso é uma coisa que foi descoberta nos anos 1800, por um físico francês chamando [Henri] Becquerel, que descobriu o efeito fotovoltaico. Ele fez todo um experimento em laboratório, utilizando coisas bem antigas daquele momento. Ele descobriu que o sol emite essa radiação em forma de fótons. Esses fótons entram nas células fotovoltaicas, desprendendo os elétrons e isso acontece um efeito físico. Esses eletros já estão conectados a várias células para conduzir a corrente elétrica”.
Então é praticamente uma geração direta?
“Sim. A energia solar é única que se consegue obter diretamente das placas de energia, porque as outras utilizam o vento e a água para movimentar uma máquina”.
Tendo isso em mente, é possível gerar energia solar… sem sol?
“É possível, em dias nublados. As placas geram, praticamente com a partir dos 20% de radiação, já dá para fazer algum tipo de produção”.
E qual o panorama da Bahia nessa geração de energia?
“A Bahia vem se destacando há um tempo, principalmente com a instalação dos parques no oeste baiano, as regiões de Bom Jesus da Lapa, Tabocas do Brejo Velho, e esses parques são oportunidades, porque geram muita renda para o lugar onde vão ser instalados, no momento da construção principalmente. Isso ajuda muito o comércio local também”.
Qual o nosso potencial de geração de energia solar hoje?
“A gente já tem quase 800 megawatts instalado e se espera que entrem mais 60 parques até 2026, e isso crie outros três megawatts mais de capacidade instalada. Nesse caso a gente precisa de mais área, é uma das coisas que a gente de desvantagem em relação à energia eólica”.
Então é preciso de mais espaço para os parques solares?
“Para gerar o mesmo potencial da energia eólica, por exemplo, se precisa de praticamente cinco vezes mais de área, em metros quadrados, mas tem que aproveitar. Temos áreas por aí, principalmente na parte oeste da Bahia, que podem ser utilizadas”.
A região do oeste baiano é a principal produtora de energia solar?
“Sim. É a que mais produz e é onde estão localizados a maior parte dos parques solares fotovoltaicos. Em Bom Jesus da Lapa tem vários, Tabocas do Brejo Velho também, em Novo Horizonte. Tem alguns municípios que, pela característica de radiação que eles recebem ao longo do dia, são os lugares ideais para instalar. Fora que lá tem muita área plana e isso ajuda bastante. Fora que tem também o Rio São Francisco, que é utilizado para a limpeza das placas, porque um parque precisa de um sistema de irrigação para limpar a cada seis meses”.
Qual o impacto da nossa produção na matriz energética do Brasil?
“Junto com a energia eólica, representa aproximadamente 30% produção nacional. A Bahia é um dos estados que mais tem projetos para a frente. O país atingiu a marca dos 20 gigawatts e isso representa 13% da matriz nacional, mas ainda depende muito da geração das hidrelétricas, perto de 60%, aproximadamente. E isso está causando o que a gente está vivendo agora. Está ligando as usinas termelétricas, que são as que mais gastam. E criou-se a bandeira vermelha dois, por causa da escassez, que passa dos R$ 14 acima dos 100 quilowatts”.
Esse impacto tende a crescer?
“Sim. As energias solar e eólica são as que mais estão crescendo, em produção. São as que mais leilões tiveram, por exemplo”.
A energia solar também é estocável?
“É possível estocar essa energia, principalmente nos últimos anos, que está havendo esse boom de armazenamento. Há muitos estudos usando elementos para armazenar, mas íon de lítio tem se mostrado o mais seguro e é utilizado nos smartphones, computadores, esses tipos de baterias. O que estão sendo utilizados nesses casos de armazenamento altas quantidades de energia são baterias do tamanho de contêineres, baterias gingantes”.
E como produzir e consumir energia solar em casa?
“A pessoa instala seu sistema em um local, esse sistema vai gerar uma energia e essa energia vai ser injetada na rede que se está ligada. Sempre tem que estar conectada a uma rede, porque são sistemas isolados, precisa da bateria. Os mais comuns são ligados à rede, onde as concessionárias, no caso aqui da Bahia que é a Coelba, coloca um conversor bidirecional. É bem simples. Vamos supor: você injeta 50 quilowatts em um dia e para a noite, ou ao longo do mesmo dia, você precisa dessa mesma quantidade e isso vai em dois sentidos. Você sai de casa e só está ligada a geladeira, ou seja, você está gerando mais do que consumindo. Essa energia é injetada na rede. E no caso da noite, sempre vai estar descontando a quantidade de energia que você gerou, ao longo do dia, na sua residência”.
Produzindo energia solar em casa, dá para dizer ‘adeus’ à conta de luz?
“Não, isso é mentira. Não dá para zerar a conta de luz, porque você tem aí tarifas de iluminação, a parte que eles cobram pelo seu sistema, se ele é monofásico, bifásico, trifásico, existe uma tarifa mínima sempre incluída”.
E essa energia também pode ser exportada?
“Pode sim. Muitas energias, quando se gera grandes quantidades em um mesmo local, se é exportada. Existe o sistema nacional, o ONS [Operador Nacional do Sistema Elétrico] e tem um sistema interligado. O único estado que não está ligado ainda é Roraima, mas já há um projeto para se ligar. Fora ele, o restante do país está todo interligado. Então se consegue enviar energia e comercializar de um estado para o outro. E agora, com essa crise no Sudeste, eles com certeza vão precisar da energia do Nordeste”.
Fonte G1 Bahia