Todo candidato que encontra o publicitário Paulo de Tarso pede um “Lula Lá” de presente. Já com o alfaiate José Raimundo de Castro, o pedido é por uma variação arrebatadora de “Ey, Ey, Eymael”. A sina desses homens é a de responder pela criação de dois dos jingles de campanha mais impactantes (ou grudentos) da história recente. Embora não tenham embalado vitórias eleitorais (“Lula Lá” é de 1989, eleição vencida por Fernando Collor de Mello), eles se transformaram em marcas definitivas de seus respectivos “musos”. Ou seja: valem muito.
Profissionais do marketing estimam que um hit-chiclete pode custar até R$ 200 mil em uma campanha presidencial de grande porte. Ainda assim, o mercado do jingle é bastante elástico. Não é raro encontrar compositores oferecendo gratuitamente seus serviços (de olho em contratos futuros) ou produtoras prometendo entregar jingles em 24 horas, direto no WhatsApp do contratante, por módicos R$ 499,99.
O mercado do jingle baratinho floresce nas eleições para o Legislativo de cidades do interior. Na maioria dos casos, são músicas já prontas, feitas com uma colagem de clichês: “candidato do povo”, “mulher guerreira”, “o que é bom tem que continuar”, “a nossa esperança e lá lá lá”. A variação de ritmos vai do pop romântico até o forró pé de serra.
Por R$ 999, a produtora baiana Jingles do Brasil entrega em 72 horas um single inédito, com letra totalmente criada a partir do briefing do candidato ou de sua equipe. “Já aconteceu de um político pedir um jingle xingando o adversário, chamando o outro de safado no refrão”, afirmou o dono da produtora, Paulo Geovane Magalhães.
Segundo Elvis Dalastra, da On Produções, que atua em Santa Catarina, os valores são baixos porque “se ganha na quantidade”. Muitas vezes, as produtoras de jingles são subcontratadas por agências de propaganda “que pedem 10, 15 jingles de uma só vez”. “Ou seja, a maior parte do dinheiro fica com as agências de propaganda e não com as produtoras de jingles”, disse Dalastra.
Em São Paulo, um jingle para candidaturas ao Legislativo saem por R$ 10 mil a R$ 12 mil. Na produtora Núcleo de Criação, os sócios Lawrence Shum e Marcelo Pacheco costumam não incentivar o uso de paródias. “Apesar de ser de fácil assimilação, pode passar uma imagem de que o candidato não é original e, pior, que está roubando a ideia de outro”, afirmou Pacheco.
Vale?
Será que o jingle em 2018 terá o mesmo peso de outras eleições ou as campanhas poderiam olhar com mais carinho para produtoras de baixo orçamento? “Música é a emoção na campanha. Ela é importante na medida em que a música é importante na vida das pessoas”, disse o publicitário Chico Malfitani, que criou o jingle de Eduardo Suplicy em 1985. Para ele, o problema é o tempo menor dos programas eleitorais. “Com menos tempo de TV, fica difícil passar uma mensagem. Imagina se Frank Sinatra tivesse apenas 15 segundos para cantar New York, New York”.
Publicitário e coautor de Brilha uma estrela (o “Lula lá”, em parceria com Hilton Acioli), Paulo de Tarso vai pela mesma linha. “Eu pensaria duas vezes antes de investir muito dinheiro – principalmente porque o tempo de horário eleitoral é restrito e acredito que não haverá tempo para longos clipes.”
Se o problema for dinheiro, as campanhas ainda podem optar por encontrar artistas e produtores que façam o trabalho para “criar portfólio”. O caso de Lázaro do Piauí é exemplar. Em 2006, ele criou o Deixa o homem trabalhar para a reeleição do então presidente Lula.
O jingle foi escolhido pelo próprio Lula. “Ele me ligou e perguntou quanto seria. Eu disse que era presente e pronto”, disse. Esse “presente” rendeu ao artista uma carreira bem paga no mercado de jingles. “Depois, fiz música para Dilma Rousseff, Fernando Collor, Mão Santa e outros”, disse. O único ônus, segundo ele, é “receber e-mail de eleitor brigando depois que o político é preso”.
Reciclagem
Se não tiver quem faça de graça, o jeito é dar uma roupagem nova a um velho jingle. O octogenário José Raimundo de Castro, dono de uma alfaiataria na Galeria do Rock, em São Paulo, e autor do chiclete mais grudento dos últimos tempos (“Ey, ey, Eymael, um democrata cristão…”), já pensa em transformar o seu hino em um sambão, para ficar mais “pegado”. “Acho que tem tudo para cair no gosto do povo.” Em 1985, quando compôs o jingle para José Maria Eymael, o trabalho saiu quase de graça, por preço de custo e ” totalmente na amizade”. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.