Os preços de carros novos no país subiram até 35,95% em três anos. É o que aponta um levantamento da consultoria especializada no setor automotivo, a Jato Dynamics.
A maior alta de preços foi verificada entre os sedãs médios, que inclui modelos como Toyota Corolla e Chevrolet Cruze. No segmento, os preços subiram, em média, de 65,2 mil reais para 101,78 mil reais de 2015 a 2018.
Na categoria de hatchs compactos, categoria na qual se enquadram o Volkswagen Fox e Hyundai HB20, o preço médio subiu 19,15%, de 45,6 mil reais para 56,4 mil reais.
Entre os SUVs, categoria a qual pertencem o Ford Ecosport e o Jeep Renegade, o preço médio aumentou 18,42%, passando de 80,2 mil reais para 98,3 mil reais.
O segmento de sedãs compactos, que inclui modelos como o Fiat Grand Siena e o Volkswagen Voyage, foi o único a registrar praticamente uma estabilidade de preço no período, com preço médio passando de 58,3 mil reais para 58,6 mil reais. Ou seja, uma alta de apenas 0,52%.
A alta de preços registrada em cada categoria deve ser ponderada pela inflação do período. Segundo o IBGE, a inflação medida pelo IPCA acumulada nos três anos do estudo atingiu 21,10%.
Ou seja, enquanto o preço de sedãs compactos ficou bem abaixo da alta de preços do período, a alta do preço dos hatchs compactos e dos SUVs ficaram um pouco abaixo desse aumento de preço. O único segmento que realmente descolou do movimento inflacionário e ficou bem acima dele foi o dos sedãs médios. Contudo, a alta de preços em linha com a inflação e até mais alta do que ela chama a atenção em um período de mercado retraído.
O estudo da Jato leva em conta o preço de fábrica publicado pela montadora (preço sugerido). Esse valor pode sofrer descontos até a venda do veículo. Mas, segundo a própria Jato, esse desconto é de, em média, 7,74% no segmento de hatchs compactos, e menor nas outras categorias (5,81%, em média).
O espaço para barganha na compra do carro diminuiu desde que as montadoras passaram a regular seus estoques mais de perto. Isso aconteceu depois que as empresas sentiram na pele os prejuízos registrados por conta do fim do boom do setor automotivo no país e início da crise econômica atual.
A pesquisa não inclui todos os veículos disponíveis no mercado brasileiro, mas apenas uma cesta de veículos em cada categoria. Elas são compostas pelos modelos mais representativos de casa segmento e que ficaram disponíveis no mercado durante todo o tempo da pesquisa.
No segmento de hatches compactos, foram analisados os preços do Toyota Etios, Volkswagen Fox, Volkswagen Gol, Hyundai HB20, Ford Ka, Fiat Mobi, Chevrolet Ônix, Fiat Palio, Renault Sandero.
Na categoria de sedãs compactos, foram incluídos os modelos Toyota Etios Sedã, Fiat Grande Siena, Hyundai HB20 Sedã, Ford Ka Sedã, Renault Logan, Chevrolet Prisma, Nissan Versa e Volkswagen Voyage.
A cesta de veículos analisada no segmento de sedãs médios inclui o Peugeot 408, Citroen C4 Lounge, Honda Civic, Toyota Corolla, Chevrolet Cruze Sedã, Ford Focus Sedã, Volkswagen Jetta e Nissan Sentra.
No segmento de SUVs, o estudo analisou os preços do Peugeot 2008, o Renault Captur, Jeep Compass, Hyundai Creta, Renault Duster, Ford Ecosport, Honda HR-V, Nissan Kicks, Jeep Renegade e Chevrolet Tracker.
Por que os preços subiram tanto
Milad Neto, consultor da Jato, cita diversos motivos para a alta dos preços dos carros zeros no país.
Um deles é a implantação de um sistema de entretenimento cada vez mais completo nos veículos novos. “Mais equipamentos tecnológicos têm impacto no preço final do carro, mesmo em um cenário de alta competitividade e mercado desaquecido”.
A alta do dólar no período também tem impacto nessa alta de preços, já que commodities utilizadas na fabricação dos veículos, como o ferro, são importadas, bem como aparelhos eletrônicos e peças.
Antônio Jorge Martins, coordenador de cursos automotivos da FGV, cita ainda os efeitos da crise econômica. Depois de enxugarem a sua produção e custos ao máximo, as montadoras não viram saída a não ser repassar parte desses custos para o consumidor.
A produção de novos veículos se reduziu pela metade nos últimos cinco anos. Mas os custos do negócio não caíram na mesma intensidade. “Isso faz com que, mesmo na crise, parte desses custos sejam repassados ao consumidor para manter o equilíbrio do negócio”, explica o professor. Naturalmente, o repasse é maior nas categorias que mais atraem o consumidor.
Seminovo ganha vantagem?
O aumento dos preços dos carros zeros tende a ser acompanhado no mercado de seminovos de forma proporcional. Isso porque quando o carro novo aumenta o preço, a busca pelo seminovo automaticamente cresce. Essa procura maior causa um repique nos preços dos veículos com mais de um ano de uso.
Ainda assim, a alternativa de comprar um seminovo deve ser sempre considerada. “Não é um bom negócio comprar um carro novo, ainda mais em um cenário de elevação de preços”, diz o professor Martins.
Isso porque o porcentual maior de depreciação do carro é registrado no primeiro ano de uso do veículo. Segundo dados da agência Autoinforme, responsável pelo prêmio “Maior Valor de Revenda”, que analisa a depreciação de veículos, um carro novo pode depreciar até 20% no primeiro ano.
Contudo, existem veículos que desvalorizam bem menos do que esse porcentual, diz Joel Leite, diretor da Autoinforme. “O ganhador do último prêmio se depreciou apenas 4,5%, e diversos veículos analisados desvalorizaram menos de 10% no primeiro ano”.
Ou seja, a redução da depreciação nos anos posteriores vai variar muito de modelo para modelo e depende da estratégia das montadoras. Mas é certo que essa depreciação se reduz significativamente depois de dois anos de uso, diz Martins.
Um estudo feito pela Autoinforme mostra que no primeiro ano de uso a depreciação de um carro gira em torno de 10%, e se reduz para 8% no segundo ano. Já no terceiro e quarto ano, cai para 5% e 4%, respectivamente.
Fonte: Exame