Segundo dados do boletim, estado teve 91 assassinatos motivados pelo crime e 316 ataques contra vítimas, chegando a 3ª posição no país
A Bahia aparece em terceiro lugar no país em número de casos de violência contra mulher registrados em 2022, e lidera em comparação com os dados de 2021 e também em número de feminicídios em todo o Nordeste. As informações compreendem o relatório “Elas Vivem: dados que não se calam”, da Rede de Observatórios da Segurança, que foi divulgado nesta segunda-feira (6).
De acordo com o boletim, o estado fechou o ano passado com 316 casos de violênncia, contra 200 contabilizados em 2021. A variação entre os dois anos representa um crescimento de 58%. Em números totais, a Bahia fica atrás apenas de São Paulo, que teve 898 casos; e do Rio de Janeiro, que fechou o ano com 545 crimes do tipo. Já em relação aos feminicídios, o estado teve 91 somente em 2022.
“Existe a necessidade de que todas as pessoas tenham um conhecimento social sobre essas questões para que a gente possa transformar esses números que aumentam a cada ano”, explica a pesquisadora baiana Larissa Neves, em nota divulgada pela Rede.
Esta é a terceira edição do documento, que apresenta o monitoramento de sete estados. Além da Bahia, foram acompanhados Ceará, Pernambuco, São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão e Piauí, sendo que os dois últimos integram o levantamento pela primeira vez neste ano.
Em todo o país, segundo o boletim, foram registrados 2.423 casos de violência contra a mulher somente em 2022. Ou seja, a cada quatro horas ao menos uma foi vítima de violência. Entre os casos registrados, 510 foram feminicídios. Com isso, a pesquisa mostra que pelo menos uma mulher morreu por ser mulher a cada dia.
A maior parte dos registros nos sete estados tem como autor da violência companheiros e ex-companheiros das vítimas. São eles os responsáveis por 75% dos casos de feminicídio. As principais motivações são brigas e términos de relacionamento, aponta o estudo.
“Trazer à tona esses números, que representam vidas de mães, irmãs, filhas, deve fazer com que os governos criem políticas públicas para evitar essas violências e preservar vidas. Afinal, muitos desses casos poderiam ter sido impossibilitados pela quebra do ciclo da violência por meio de ações do Estado e do sistema de justiça”, trouxe a Rede em nota.
Análise
Além da Bahia, o Rio de Janeiro também apresentou uma alta significativa de 45%. O estado chegou a registrar ao menos um caso de violência contra a mulher a cada 17 horas. No mesmo período, episódios de violência sexual praticamente dobraram, passando de 39 para 75, no intervalo entre 2021 e 2022.
Pernambuco é o segundo estado do Nordeste em registros de violência contra a mulher, com 225 casos – uma média de pelo menos um caso a cada dois dias. O estado também passou a liderar os números de transfeminicídios (assassinato de pessoas trans) – posição ocupada pelo Ceará nos últimos dois anos.
Enquanto isso, as mulheres cearenses vivenciaram um aumento de casos de violência sexual. O número quase dobrou, passando de 17 para 31 casos.
O Piauí é o segundo estado do Nordeste em números de feminicídios. No estado, os serviços de acolhimento se concentram na capital e deixam as mulheres de outras localidades desamparadas, segundo apontou o levantamento.
Já o Maranhão é o segundo estado do Nordeste em agressões e tentativas de feminicídio. Os maranhenses registram um caso de violência contra a mulher a cada 54 horas.
“Para além da responsabilidade individual, precisamos refletir sobre a responsabilidade do Estado em tolerar que tantos feminicídios aconteçam. Já foram assinados tratados e já avançamos em algumas direções, mas ainda se permite a impunidade. E isso se dá ao não se procurar saber como esse crime acontece, não se fazer o devido registro, não qualificar juridicamente da maneira correta”, explica Edna Jatobá, coordenadora do Observatório da Segurança de Pernambuco.
Metodologia
Conforme a Rede, os dados são produzidos a partir de um monitoramento diário do que circula nos meios de comunicação e nas redes sociais sobre violência e segurança. As informações coletadas alimentam um banco de dados que posteriormente é revisado e consolidado.
A violência contra mulher é o terceiro indicador de violência mais registrado pela Rede de Observatórios. Fica atrás apenas de eventos com armas de fogo e ações policiais – que tradicionalmente ocupam o noticiário policial.
Rede de Observatórios
A Rede de Observatórios atua na produção cidadã de dados com rigor metodológico em oito estados em parceria com instituições locais. São elas:
- Iniciativa Negra Por Uma Nova Política de Drogas, da Bahia;
- Laboratório de Estudos da Violência (LEV), do Ceará;
- Rede de Estudos Periférico (REP), do Maranhão;
- Grupo de Pesquisa Territórios Emergentes e Redes de Resistência na Amazônia (TERRA), do Pará;
- Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), de Pernambuco;
- Núcleo de Pesquisas sobre Crianças, Adolescentes e Jovens (NUPEC), do Piauí;
- Núcleo de Estudos da Violência (NEV/USP), de São Paulo
O estado do Pará passou a ser monitorado em janeiro de 2023 e por isso ainda não acumula dados que possam ser apresentados neste relatório.
Já Maranhão e Piauí completaram o seu primeiro ano na Rede e por isso foram incluídos, pela primeira vez, neste estudo.
Fonte: IBahia.com