Após três meses fora do Brasil e omisso desde que perdeu as eleições, Jair Bolsonaro (PL) retornou ao país. A volta, há menos de uma semana, aconteceu em meio a ameaças de prisão da Polícia Federal caso o ex-presidente continuasse fugindo das investigações contra ele – das quais uma pode até torná-lo inelegível.
Bolsonaro alega, entretanto, que a vinda foi por motivações políticas. Ele pretende percorrer o país para defender o seu governo e fazer o PL e partidos aliados crescerem nas eleições de 2024, principalmente no Nordeste (única região onde o presidente Lula, do PT, derrotou Bolsonaro).
As novas articulações políticas não preocupam as siglas aliadas do governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues (PT). O presidente do PT na Bahia, Éden Valadares, ressaltou a “insignificância” atual do ex-presidente. “Bolsonaro é menos assunto da política, e muito mais da Justiça Criminal”, disse ao Metro1.
Presidente estadual do MDB, sigla do vice-governador Geraldo Júnior, Alexandro Futuca também acredita que a visita de Bolsonaro aos municípios baianos não terá muitos impactos. “Lula é muito forte na Bahia, não acredito que isso vá interferir, até porque Jerônimo vem da gestão bem avaliada do ex-governador Rui Costa e os seus primeiros 100 dias à frente do governo têm mostrado êxito”, avaliou.
Bolsonaro na Bahia
O professor de Comunicação Política na Ufba, Wilson Gomes, valida o entendimento das lideranças partidárias uma vez que, no seu entendimento, o ex-presidente está no seu momento político mais fraco, fora do cenário político ativo e de um lugar institucional.
“Elas (as lideranças) têm razão porque Bolsonaro não é um grande produtor de votos na Bahia. Ele foi fraquíssimo no momento em que era mais forte nacionalmente”, relembrou, em entrevista ao Metro1. Em 2022, Bolsonaro foi derrotado em 415 dos 417 municípios do estado onde Lula venceu com 72% dos votos.
Por outro lado, o cientista político Cláudio André de Souza crê que não se pode subestimar completamente o bolsonarismo no estado.
“Existe uma força petista muito forte na Bahia, mas Bolsonaro pode desequilibrar eleições onde há um posicionamento mais conservador”, afirmou. Entre as possíveis preocupações, segundo ele, estão grandes cidades representadas por políticos ligados à extrema-direita, como Porto Seguro, Vitória da Conquista e Feira de Santana, além do oeste baiano, com o agronegócio.
Possível inelegibilidade
Bolsonaro está na mira do STF, do TSE e da PF por suspeita de envolvimento nos atos terroristas de 8 de janeiro e sob os holofotes do escândalo sobre a suposta tentativa de contrabando das joias sauditas. Pelas mentiras sobre o sistema eleitoral, o ex-presidente pode se tornar inelegível.
Para Cláudio André, isso não quer dizer que ele perderá a sua capacidade de influenciar a política brasileira. “Pode ser um fenômeno parecido com o ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Um processo judicial pode fomentar a narrativa de que há uma perseguição política e isso pode levar à mobilização dos bolsonaristas. Isso aconteceu com Lula, quando ele foi preso”, afirmou.
Já Wilson Gomes tem uma análise diferente. “Uma coisa é [o bolsonarismo] persistir, outra é como uma força política capaz de eleger prefeitos, governadores, senadores e presidentes. É pouco provável que sem assento na presidência e toda a verba pública para mover a sua eterna campanha, ele consiga se manter”.
Fonte Metro1