Para a maioria dos trabalhadores, o salário não é suficiente para bancar todos os gastos da família e acaba antes do fim do mês. Segundo uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), de maio deste ano, apenas 16% dos brasileiros conseguem encerrar o mês com dinheiro na conta. De olho nesta realidade, empresas de benefícios e aplicativos começaram a formalizar o popular “vale” — quando o patrão adianta o salário ao empregado e desconta o valor no mês seguinte —, por meio de um cartão pré-pago em nome do trabalhador.
A Ticket, que atua setor de vales alimentação e refeição, lançou o serviço de adiantamento salarial Ticket Plus, substituindo o vale em dinheiro por um pré-pago personalizado, que a cada mês tem creditado o valor pedido pelo funcionário. O montante é descontado posteriormente no salário. De acordo com a Ticket, mais de um milhão de pessoas já usam o cartão, especialmente em São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Rio de Janeiro.
A empresa não revelou o número de empregadores que contrataram o serviço, mas informou que setores que mais utilizam o cartão são serviços, indústria, comércio e varejo. O adiantamento salarial tem um limite pré-aprovado. Portanto, o valor máximo antecipado aos funcionários depende de cada empresa-cliente.
— Os empregados ganham poder de compra, porque substituem os valores gastos com o cartão de crédito por um cartão sem juros. As compras podem ser parceladas e pagas com desconto em folha em até 40 dias, sem custos adicionais — disse Vivian Yushiura Ramos, gerente de Produtos da Ticket.
Os usuários podem consultar o saldo por meio de um site. O cartão ainda oferece descontos de até 60% em farmácias e permite fazer recargas de celular.
Para Ricardo Teixeira, professor dos MBAs da Fundação Getulio Vargas (FGV), o adiantamento salarial pode ser um benefício real na medida em que pode evitar o endividamento ou o pagamento de contas em atraso, com multas. Ele alerta, no entanto, que o trabalhador não deve estabelecer uma relação de dependência.
— O adiantamento deve ser encarado como uma situação passageira. O trabalhador pode mudar de empresa, de atividade, e não ter esse adiantamento. Ele precisa conseguir viver sem precisar recorrer a esse dinheiro — ressaltou o professor.
Ainda segundo ele, o trabalhador deve organizar os gastos pessoais e familiares num a planilha de orçamento: — É preciso se programar para ajustar as despesas aos ganhos, ainda que isso signifique sacrifícios. Senão, o trabalhador entra numa espiral de receber quinzenalmente.
Outras empresas
Aplicativos também oferecem antecipação de salários ou recebíveis. No caso da Medicinae Solutions, plataforma que auxilia clínicas e hospitais de pequeno porte a organizar suas informações de faturamento, os profissionais de saúde podem antecipar o recebimento de consultas, procedimentos e/ou internações em poucos dias, em vez de esperarem até três meses pelo depósito dos planos de saúde. Mas a facilidade também exige controle orçamentário.
Fonte: Agência O Globo