Entre os fiéis que se juntam para subir a Colina Sagrada e participar da lavagem das escadarias da Basílica Santuário do Nosso Senhor do Bonfim, nomes da política local também marcam presença todo ano na festividade que é considerada uma das principais no estado. E não é só pela fé, a Lavagem do Bonfim é um momento em que a cultura, a devoção e a política se entrelaçam. Ela inaugura o calendário político baiano, principalmente em um ano eleitoral, como 2024.
Os blocos políticos se dividem, reúnem seus pré-candidatos e principais cabos eleitorais em uma espécie de prenúncio de seus palanques para o pleito do ano. Funciona como um termômetro de popularidade e aceitação junto à população.
Para este ano, nomes da política local, como o governador Jerônimo Rodrigues (PT), o prefeito de Salvador, Bruno Reis (União), o vice-governador Geraldo Júnior (MDB) e outros pré-candidatos ao Executivo municipal já são dados como certos. Até mesmo o quadro nacional do PT Marcelo Freixo, presidente da Embratur, já confirmou sua participação. A presença do ex-prefeito ACM Neto (União), que até então era incerta, também já foi confirmada, nesta terça-feira, por Bruno Reis. No anopassado, após a derrota no pleito pelo governo do estado. ACM Neto teve uma participação discreta na festa. Chegou até a afirmar que estava ali apenas como cidadão.
Com uma tradição existente há mais de 250 anos, a Lavagem do Bonfim acontece nas quintas-feiras após o Dia de Reis, em 6 de janeiro. Neste ano, acontecerá nesta quinta-feira (11). Para o cientista político Joviniano Neto, a festa é uma das maiores formas de demonstrar não só a identidade cultural, mas também a política do povo baiano e de Salvador.
“O Brasil tem poucos momentos em que o povo se identifica como unificado. Então a Lavagem é esse momento religioso, mas sempre foi a afirmação cultural de identidade. E os políticos sempre vão participar mostrando que são parte do povo baiano, [que existe um movimento] de sintonismo com o soteropolitano. E o tamanho da receptividade e da identificação que o povo dar a eles vai funcionar como termômetro político”, ressalta o também professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Quem concorda com o professor é Cláudio André, outro estudioso da área política, que compara a Lavagem do Bonfim com o Dia da Independência da Bahia, no dia 2 de Julho. André aponta que, embora não seja intrinsecamente um momento de festividade ligado à política diretamente, o evento de janeiro é um momento em que políticos vão buscar dialogar com o povo.
A expectativa é que neste ano os contornos políticos da festividade mostrem-se ainda mais fortes, já que será uma oportunidade de os pré-candidatos terem um contato direto e antecipado com seu eleitorado. “Acaba se tornando um pontapé. É de fato o primeiro evento público de pré-campanha de todos os pré-candidatos e funciona como um termômetro de mobilização, de saber quem foi forte, de quem juntou mais gente e mais apareceu”, avaliou.
Apesar disso, segundo Cláudio André, o que se pode esperar para esta Lavagem é que os conflitos políticos fiquem em uma “temperatura morna”. “É um respeito ao lugar de cada um, em que não há uma troca de farpas. É um momento de celebração”, ressalta.
Fonte Metro1