Gestos que parecem simples como “paz e amor” ou “vitória” podem ser perigosos em diferentes regiões do Brasil. Isso porque fazer fotos ou cumprimentar as pessoas com os dois dedos podem representar apoio ao Comando Vermelho (CV). Já um gesto que antes se referia aos roqueiros, levantando os três dedos, pode ser uma saudação para o Bonde do Maluco (BDM). As mortes dos moradores dentro das comunidades revelam uma “cartilha do medo” que as facções criminosas submetem a sociedade brasileira de diversos estados do país.
Uma camisa preta foi o principal motivo do assassinato do auxiliar de serviços gerais Francisco de Assis Ricardo de Almeida, de 40 anos. Ao utilizar a roupa ele foi confundido com um miliciano, na última sexta-feira (10). Francisco estava a caminho de um retiro em uma igreja evangélica no Catiri, na Zona Oeste do Rio, quando foi morto.
Nas comunidades dominadas por grupos faccionados, gestos, estampas de roupas, cores, orientação religiosa e até comportamentos podem ser considerados inadequados e assim colocar em risco a vida das pessoas, muitas vezes sem que a própria vítima tenha conhecimento da regra.
Na Bahia, no ano passado, ao menos seis pessoas foram assassinadas após exibirem gestos associados a facções criminosas. Entre um dos casos marcantes está a morte de dois irmãos adolescentes, mortos no início de outubro, após posarem para uma foto exibindo o sinal do número três com os dedos, associado à facção conhecida como BDM. Uma adolescente que estava com eles na foto também foi baleada, mas sobreviveu.
Os jovens Gustavo Natividade, 15 anos, e Daniel Natividade dos Santos, 24 pertenciam ao bloco afro Malê Debalê e estavam em um passeio entre amigos em Arembepe, na cidade de Camaçari-BA. Segundo a polícia, outras duas pessoas foram atingidas pelos tiros e socorridas para uma unidade de saúde. Em nota, o Malê desejou força aos familiares. “É com profunda tristeza que informamos o falecimento de Daniel Natividade e Gustavo Natividade, músicos do projeto social Malêzinho. Que Deus possa confortar toda a família e amigos nesse momento de dor”, diz a nota do grupo.
Casos como o de Francisco, Gustavo e Daniel não são isolados. Outro episódio aconteceu no início deste mês, no Rio de Janeiro, um vídeo que circula pela internet mostrou traficantes raspando à força o cabelo de ao menos três mulheres na comunidade da Serrinha, na Zona Norte, por supostamente participarem de um “grupo da fofoca”. A polícia confirmou que os vídeos são recentes e investiga o caso.
As “técnicas” de controle social mostram o quanto a violência domina as comunidades que ficam à margem dos grandes centros da cidade, uma vez que a maioria dos crimes de retaliação e dominação ocorrem nas periferias.
Essa cartilha do medo se estende até para os personagens da Disney, já que o desenho do Mickey está vinculado a uma outra facção que é conhecida como “A Tropa” no território baiano, tanto na capital quanto na região do Recôncavo.
Em Saubara, por exemplo, um ambulante identificado como Allisson Cerqueira Nascimento, 18 anos, foi assassinado por criminosos no dia 3 de janeiro do ano passado, porque usava uma camisa com o desenho do Mickey quando foi agredido até a morte por membros do BDM.
Em resposta, as autoridades vêm se mobilizando para coibir essas ações criminosas, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) divulgou neste mês, o canal do “Disque Denúncia” que passa a funcionar 24h por dia. Por meio do telefone 181, com ligação gratuita, a população pode fazer denúncias sobre a atuação de facções com total sigilo.
Para o secretário Marcelo Werner, “a integração com a população foi fundamental para o êxito no combate incansável ao crime organizado. Com o atendimento 24h do Disque Denúncia, ampliaremos a repressão às facções”, destacou Marcelo Werner.
No RJ, em comunicado à imprensa, a Polícia Militar ressalta a importância de que a população colabore realizando denúncias – o telefone do Disque-Denúncia é (21) 2253-1177 – ou, para casos urgentes, faça o acionamento através da Central ou através do aplicativo 190. Os registros nas delegacias da Polícia Civil também são essenciais para que procedimentos investigativos sejam iniciados.
Fonte BNews