Após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) divulgar na última quarta-feira que recolheu cerca de 200 lotes de remédios reguladores de pressão arterial por conta de impurezas cancerígenas , a instituição frisou uma vez mais que as pessoas com hipertensão não devem parar de tomar os remédios até que tenham outro em mãos.
Os medicamentos que tiveram lotes recolhidos são o losartana — o segundo mais vendido no Brasil — e o valsartana. De acordo com a Anvisa, as impurezas encontradas possuem um potencial cancerígeno “ínfimo”, e os pacientes não devem se alarmar ou fazer mudanças nos seus tratamentos sem antes consultar um médico ou um farmacêutico.
Para o cardiologista Sérgio Kaiser, diretor científico do Departamento de Hipertensão da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro (Socerj), interromper a medicação por conta dessas impurezas não irá influenciar no risco de ter um câncer e pode trazer complicações sérias para a pressão arterial do paciente.
— Se você usar durante cinco anos a dose máxima recomendada de losartana, a chance de ter câncer em razão disso é de um em cada 6 mil pacientes. Uma proporção muito baixa se você comparar ao risco de parar a medicação de hipertensão. As chances de ter um acidente vascular cerebral (AVC) ou um infarto do miocárdio são bem maiores — disse Keiser, que também é professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).
As impurezas encontradas nesses lotes dos remédios são derivadas do composto químico nitrosamina. Em uma nota divulgada no portal da Anvisa nesta quarta-feira, a entidade afirma que “pequenas quantidades de nitrosamina são encontradas diariamente” em alimentos, água e vegetais.
‘Não há motivo para pânico’
A nota ainda afirma que essas pequenas quantidades são “aceitáveis e não oferecem risco, mas não deveriam estar presentes em medicamentos”. Ainda assim, a Anvisa reitera que os remédios contendo “sartanas” são “seguros e eficazes no controle do tratamento de hipertensão e insuficiência cardíaca, reduzindo significativamente o risco de derrame e infarto”.
Para Kaiser, o mais importante é não parar de tomar o remédio até que já se tenha outro à disposição. Segundo ele, caso um paciente tenha receio de continuar com o medicamento de determinado laboratório, não há motivo para pânico:
— Enquanto ele continua tomando, dá tempo de procurar um médico e ir atrás de outro medicamento. A sugestão é que o paciente não pare de tomar por conta do risco de câncer. Isso não vai afetar em nada e ainda pode aumentar o risco de complicação com a pressão arterial — disse o cardiologista.
O professor da Uerj afirma ainda que, normalmente, quem sofre com hipertensão faz uso de mais de um medicamento para controlar a pressão arterial. Sendo assim, no caso de o paciente deixar de tomar o medicamento, ele terá uma perda parcial do efeito, o que pode ser prejudicial para a saúde.
— Se a pressão da pessoa é de 14 por 8 e ela sobe para 16 por 8, por exemplo, dobra-se o risco de se ter um AVC. Lógico que isso funciona na maioria das vezes a longo prazo. Mas, de qualquer maneira, não se consegue identificar qual paciente corre mais esse risco — disse Kaiser.