O Bahia trabalha com a possibilidade de reintegrar Índio Ramírez. Dentro do clube, lideranças como o auxiliar técnico Cláudio Prates acreditam fortemente na palavra do jogador de que não teria utilizado nenhum termo racista para ofender Gerson. O colombiano alega ter dito “vamos jogar sério” e não “cala a boca, negro”, como relatou o flamenguista em entrevista após o jogo. O atleta do Esquadrão diz que pode ter havido uma “compreensão errada”.
Em contato com o A TARDE, o Bahia, por meio da assessoria de imprensa, revelou na terça-feira, 22, que a possibilidade de reintegração é real, porém isso deve acontecer “mediante algumas condições”, que não foram detalhadas. Por enquanto, o clube mantém a posição de que o jogador está afastado. O jogo do próximo domingo, contra o Internacional, não deve ter a presença do meia.
Entretanto, surgiu um fato novo que pode mudar a concepção do Bahia. Também na terça, o vice-presidente jurídico do Flamengo, Rodrigo Dunshee, afirmou que especialistas do Instituto de Educação de Surdos (INES) determinaram, a partir de leitura labial, que Índio Ramírez disse para Bruno Henrique: “você fala muito, seu negro”.
Ainda assim, o A TARDE apurou que, mesmo que a agressão se confirme, o Tricolor não deve rescindir o contrato com o atleta.
A discussão ocorreu aos 20 minutos do segundo tempo, 13 minutos depois do embate entre Gerson e Índio Ramirez. Naquele momento, o Flamengo perdia por 3 a 2 e Bruno Henrique se irritou por achar que o jogador Tricolor estava fazendo “cera”. Ao site Globoesporte.com, Bruno Henrique afirmou não ter ouvido a ofensa.
Durante a manhã, o Bahia tinha recebido imagens das discussões que ocorreram durante a partida. O vídeo abrange do minuto 6:22 até o 8:00. Porém, a Rede Globo esclareceu: “Não foram captadas outras imagens do momento exato em que a ofensa teria acontecido, que permitam apurar o que foi dito pelo atleta. Ressaltamos que as imagens estão sendo concedidas exclusivamente para a apuração do incidente supostamente ocorrido, não sendo permitida qualquer outra utilização”. O Esquadrão também lembrou, em nota, que não teve acesso a nenhum laudo técnico sobre a apuração do caso.
“Além disso, [o Bahia] lamenta que um jogo de futebol tenha transcorrido em clima tão agressivo de todas as partes, que, além da denúncia de racismo, protagonizaram desrespeitos mútuos, agressividades e xenofobia”, escreveu o clube, em nota.
A xenofobia em questão teria sido proferida contra o próprio Ramírez, segundo contou o presidente Guilherme Bellintani à Folha de São Paulo – baseado no relato do jogador. Segundo o gestor, Índio alega ter sido chamado de “gringo de merda”. A ofensa teria vindo de Bruno Henrique. Na mesma entrevista, Bellintani disse que, caso se concretize a atitude racista de Ramírez, isso vai ”manchar a história do Bahia”.
De acordo com o advogado especializado em Direito Desportivo, Otávio Freire, “essa prova serve como indício para a investigação. O procurador do STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) deverá solicitar perícia e pode, sim, usar como prova”.
Na área criminal, porém, isso vai depender de algumas questões, segundo a advogada Daniela Portugal. “Não há um rol taxativo dos meios de prova no Código de Processo Penal. Nesse caso, o valor probatório que será conferido à leitura labial no respectivo processo dependerá dos debates travados ao longo da própria persecução penal, obedecidos o contraditório, a ampla defesa e o devido processo legal”, pondera a especialista.
Fonte A Tarde