Dois aviões da Força Aérea da Rússia chegaram ontem ao Aeroporto de Maiquetía, nos arredores de Caracas, com equipamentos e militares, em meio a ameaças do presidente Nicolás Maduro contra o líder opositor Juan Guaidó. Segundo diplomatas russos, a chegada de um cargueiro e de um jato faz parte de acordos de cooperação militar assinados com o governo da Venezuela.
Segundo o diário El Nacional, os dois aviões militares russos aterrissaram na tarde de sábado, transportando uma centena de militares liderados pelo general Vasily Tonkoshkurov, diretor do alto comando das Forças Armadas russas. De acordo com o jornal, pelo menos 35 toneladas de materiais e equipamentos foram desembarcados em Caracas.
Contactadas pela France Presse, autoridades venezuelanas não comentaram o caso. Sites russos de linha editorial favorável ao Kremlin, citando diplomatas que servem em Caracas, garantiram que não há nenhum “mistério” envolvendo a viagem, que segue critérios previstos em acordos técnicos e militares assinados há anos.
Rússia e China, principais credores da dívida externa da Venezuela (estimada em US$ 150 bilhões), têm sido dois dos maiores aliados do governo de Maduro em meio a uma crescente pressão internacional para que ele abandone o poder. A colaboração militar entre Caracas e Moscou se fortaleceu desde o inicio do chavismo, com a compra de equipamentos e de armamento militar.
Em dezembro, dois bombardeiros nucleares Tu-160, um avião de carga e outro de passageiros foram enviados pela Rússia para a Venezuela para participar de exercícios de defesa com as Força Armadas da Venezuela.
A oposição venezuelana reagiu com críticas. O deputado Williams Dávila afirmou que a presença de missões militares estrangeiras na Venezuela é ilegal por não contar com a autorização da Assembleia Nacional, controlada pela oposição. Desde 2016, no entanto, o Parlamento teve suas competências legislativas anuladas pelo chavismo.
No sábado, a cúpula do governo venezuelano acusou o líder opositor Juan Guaidó de participar de um complô de magnicídio, junto com seu chefe de gabinete, Roberto Marrero, preso na semana passada.
Segundo Maduro e o ministro da Informação, Jorge Rodríguez, eles estariam usando os recursos das sanções americanas para planejar matar o presidente.
Falsas denúncias de planos de magnicídio são comuns no chavismo e Guaidó rejeitou as acusações, feitas no momento em que se completam dois meses do dia em que o líder opositor declarou-se presidente interino do país.
Força. Analistas avaliam que, passado o período de maior pressão da oposição, o chavismo tenha ganhado fôlego ao apostar na falta de resultados da estratégia formulada pela oposição, a exemplo do que ocorreu nos protestos de rua de 2014 e de 2017.
Ameaçado pelos Estados Unidos de qualquer ação contra Guaidó, o chavismo conseguiu evitar a deserção em massa de militares, como planejavam a oposição e os Estados Unidos, e manteve o controle do núcleo duro do regime.
“O governo está fazendo de tudo para criar na população um sentimento de exasperação contra Guaidó para que a população perca a fé nele”, disse o especialista do Washington Office on Latin America, Geoff Ramsey. “A ascensão de Guaidó foi muito rápida. A queda também pode ser.”
Desde que Guaidó retornou à Venezuela sem ser preso, desafiando autoridades chavistas, ele e Maduro parecem travar um jogo de espera. Enquanto Guaidó tem apoio da comunidade internacional, Maduro segue no controle das instituições do Estado.
Analistas acreditam também que os Estados Unidos erraram ao jogar de uma só vez todo seu peso diplomático, com sanções contra o petróleo venezuelano e contra a elite chavista, na expectativa de que o Exército abandonasse Maduro rapidamente, o que nunca ocorreu.
“Maduro agora sabe que os Estados Unidos apostaram todas as suas fichas numa estratégia de médio prazo”, avalia Christopher Sabatina, da Universidade de Columbia. (Com agências internacionais)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.