Entre janeiro e o dia 13 de maio deste ano, 663 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes foram contabilizados na Bahia pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. De acordo com a delegada Simone Moutinho, titular da Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Derca), muitos deles começam ou passam pela internet.
Os números são computados anualmente no Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos e ficam disponíveis para os cidadãos. Neste ano, já são 202 registros de estupro e 93 de exploração sexual. Uma criança pode ser vítima de mais de um desses crimes, na mesma situação.
Neste sábado (18), Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, o g1 publicou um levantamento sobre as estatísticas da Bahia e a relação desses casos com a internet.
Dados na Bahia
A Bahia é o quinto estado com mais notificações, quie englobam diversos tipos de crimes, como estupro, exploração sexual, importunação sexual e violência sexual mediante fraude.
Entre janeiro e abril deste ano, foram contabilizados 564 casos. No mesmo período do ano passado, o número foi praticamente o mesmo: 565.
Em relação a exploração sexual, quando o corpo da criança é utilizado como moeda de troca ou como forma de comercialização, os registros diminuíram em todo o estado. Segundo a Polícia Civil, comparando os primeiros quatro meses de 2023 com os de 2024, é possível perceber que os casos reduziram, tanto na capital do estado, como no interior, onde ocorre a maior parte dos crimes.
Veja abaixo:
Casos de exploração sexual na Bahia
REGIÕES | VÍTIMAS 2023 | VÍTIMAS 2024 |
Capital | 34 | 25 |
RMS | 15 | 11 |
Interior | 148 | 124 |
Total | 197 | 160 |
Fonte: Polícia Civil
Agressores e vítimas
De forma geral, no Brasil a maior parte das vítimas são meninas pardas e pretas e os agressores, “pessoas de confiança”. O painel do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania aponta que eles são pais, padrastos, vizinhos, tios e avôs, e usam dessa proximidade para cometer os abusos.
Segundo a delegada Simone Moutinho, o cenário muda um pouco quando se entra no campo da internet, onde abusadores se escondem atrás de perfis para iniciar relacionamentos com a vítimas.
Crimes na internet
“As crianças hoje são aliciadas e exploradas principalmente pela internet”, afirmou a titular da Derca, Simone Moutinho.
De acordo com a delegada, as redes sociais facilitaram as ocorrências por diversos motivos: a possibilidade de conhecer pessoas de fora do ciclo social, a chance de esconder a identidade, a rapidez de disseminar uma informação e até mesmo a facilidade de lucrar com a venda de conteúdos.
De acordo com o Painel de Dados da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos, neste ano já foram registrados 15 casos de estupro virtual, quando o agressor usa fotos íntimas ou até mesmo montagens para ameaçar as vítimas. Muitas vezes, elas são obrigadas a enviar conteúdos pornográficos para que a “foto inicial” não seja publicada – e aí começa o ciclo de ameaças e abusos.
Ainda segundo a delegada, o modus operandi dos suspeitos é bem parecido nesses casos:
👉 Se apresentam como pessoas da mesma idade e com os mesmos interesses das vítimas;
👉 Ganham a confiança e se tornam pessoas presentes no dia a dia, mesmo que virtualmente;
👉 Vítima e agressor trocam fotos íntimas e praticam sexting;
👉 Vítima passa a ser ameaçada.
Um exemplo disso ocorreu em 2023, quando um radialista baiano foi preso por suspeita de violentar, filmar e extorquir menores de idade em Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. Ele fingia ser adolescente, ganhava a confiança das vítimas e as convidava para participar de um sorteio de celular. As vítimas ganhavam o prêmio e, ao buscá-lo, eram estupradas.
O suspeito ainda filmava os abusos e as extorquia. As vítimas eram obrigadas a voltar ao local para serem estupradas novamente.
Sinais de atenção
O comportamento de cada vítima é muito pessoal, contudo, a delegada indica alguns pontos que podem ser analisados pelos pais e responsáveis, como:
👉 Mudanças abruptas de comportamento;
👉 Automutilação;
👉 Passar muito tempo na internet;
👉 Apagar histórico de pesquisas e dificultar o acesso dos pais ao próprio computador e/ou celular.
Prevenção
De acordo com Simone, em relação às redes, o que acontece na maioria dos casos é o “abandono digital”, quando crianças e adolescentes usam as redes sociais livremente, sem nenhum tipo de monitoramento.
A medida, conforme ela, também não passa por hiper monitorar ou proibir o uso, já que as ferramentas se tornaram parte fundamental do dia a dia das pessoas. Uma das possibilidades é o letramento digital dos próprios responsáveis, para que possam acompanhar as crianças de forma sadia e conversar sobre o tema com propriedade.
Ainda segundo a delegada, a prevenção parte da informação e do diálogo aberto entre crianças/ adolescentes e seus responsáveis. Esse diálogo deve abordar o corpo humano e também a internet.
Como denunciar
As vítimas podem registrar os crimes online ou presencialmente. A Delegacia Virtual ampliou as opções de registros de ocorrências e é um alternativa importante para pessoas que podem ter dificuldades para se dirigir até uma unidade física. As denúncias podem ser feitas pela internet, no site www.delegaciavirtual.sinesp.gov.br.
Os crimes contra crianças, adolescentes e mulheres também podem ser registrados nas delegacias especializadas, como as Delegacias de Atendimento à Mulher (Deams) e as Delegacias de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Derccas).
O Tribunal de Justiça do Estado da Bahia (TJ-BA) tem uma assistente virtual, a Judi. Pelo número de WhatsApp (71) 99978-4768, é possível obter informações sobre os tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher (psicológica, física, sexual, moral e patrimonial), além de ter acesso aos canais de denúncia. Também é possível relatar casos através do serviço nacional Disk 100.
Fonte g1/Bahia