No mesmo dia em que o governador Rui Costa (PT) desobrigou o uso de máscaras em locais fechados, uma outra notícia esquentou o coração dos baianos: depois de dois anos sem festa, o São João está oficialmente confirmado em 2022. A animação se distribui entre os amantes dos festejos e, sobretudo, entre aqueles que incrementam a renda durante o período junino.
Isso porque as cifras em circulação pelo interior do estado são altas. Segundo Carlota Gottschall, analista da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais (SEI), os festejos movimentam a economia em ao menos 311 municípios — o que corresponde 74,5% de toda a Bahia.
Em 2019, último ano de realização do evento, essas cidades aportaram cerca de R$ 64,7 milhões em recursos para o período. “Não há dúvida de que os festejos juninos são a principal festa regional que ocorre na Bahia”, considera Carlota.
Se o investimento é alto, o retorno é ainda maior. Em Ibicuí, cidade cerca de 520 km distante de Salvador, a prefeitura estima que, em cada ano sem festa, R$ 5 milhões deixaram de circular pela cidade. Desse total, grande parte refere-se à chegada de turistas, que gastam, em média, R$ 3,5 mil por pessoa durante a estadia no município.
Olivio Souza, 36, há 12 anos aproveita o período junino para fazer uma grana extra como corretor de imóveis em Ibicuí. Mesmo tendo um emprego fixo, nesses dois anos sem São João, sentiu o orçamento apertar. “Mudou do vinho para a água”, diz. Para ele, a festa produz impacto não só no período de cinco dias. “A cidade vive e respira São João durante o ano todo”
Para este ano, antes mesmo do anúncio de do retorno dos festejos, Olivio já tinha uma considerável lista de pessoas interessadas em alugar casa em Ibicuí. “Desde o início do mês de março, eu nunca vi uma procura tão grande como agora”, comemora.
Por parte da prefeitura, a expectativa é que o entusiasmo da retomada traga fôlego ao município através da renda indireta, com a geração de empregos temporários. Em toda a Bahia, a estimativa é que o período junino, levando em conta os dias de Santo Antônio, São João e São Pedro, gerem 24 mil empregos formais e informais. A cidade de Ibicuí também comemora os ganhos com os impostos de consumo e a arrecadação de taxas de licenciamento durante as festas.
Expectativa
Em Castro Alves, município a cerca de 200 km de Salvador, a prefeitura já espera ultrapassar neste ano a média de R$ 2 milhões que costuma circular na cidade durante o período de São João. Serão três dias de festa, de 23 a 25 de junho.
“Toda estrutura está sendo planejada e as bandas locais já estão asseguradas”, explica Mário Germano, secretário de Relações Institucionais do município. As atrações de renome nacional, segundo o secretário, serão contratadas com o apoio de patrocínios e em parceria com o Governo do Estado.
O município com pouco mais de 26 mil habitantes quase dobra em termos de população durante a festa. “A cidade recebe em torno de 20 mil pessoas, entre castroalvenses que residem fora e turistas que vêm especificamente para os festejos”, afirma Germano.
Para Virna Oliveira, 35, moradora da cidade, a festa também é sinônimo de renda extra. Junto com o marido, há mais de 10 anos, Virna monta uma barraquinha, com venda de comida e bebida para o público. Ela estima R$ 5 mil a R$ 7 mil de lucro — valor maior que seu salário como farmacêutica.
O que define se seu lucro será maior ou menor é a grade de atrações da cidade, já que a concorrência entre os municípios vizinhos é grande. A cerca de 1 hora de distância de Castro Alves estão Amargosa e Cruz das Almas, duas fortes concorrentes no período.
Em Cruz das Almas, a festa foi confirmada antes mesmo do anúncio feito por Rui Costa. No dia 18 de março, o município realizou um evento em Salvador para lançar o São João de 2022.
Entre as atrações confirmadas estão Wesley Safadão, Maiara e Maraisa e Tarcísio do Acordeon. Segundo a prefeitura, durante o período, R$ 15 milhões são injetados na economia do município. “Essa é a maior tradição da nossa terra, que movimenta todo o município, garantindo mais empregos e aquecendo o turismo”, considera o prefeito Ednaldo Ribeiro (Republicanos).
Diferentemente de outras grandes festas, no São João, quem assume o protagonismo são as cidades do interior do estado. Há alguns anos, Salvador tem aumentado a estrutura de suas festas juninas, mas ainda assim a arrecadação ainda é substancialmente menor do que no Verão.
Algumas das atrações da festa na capital baiana já foram anunciadas também pelo Governo do Estado. Entre elas estão Juliette, João Gomes e Elba Ramalho. Os shows irão acontecer em três pontos de Salvador, no Pelourinho, Paripe e no Parque de Exposições.
Fonte Metro1