Já pintou verão, calor no coração, mas neste ano a festa não vai começar. Com o cancelamento do Carnaval de Salvador devido à pandemia de Covid-19, soteropolitanos e turistas terão que curtir a baianidade nagô de outro jeito.
A nutricionista Mariana Cabano, de 26 anos, estava habituada a planejar roteiros “exaustivos” para curtir bloco e camarote no mesmo dia. “Como minha tia tinha casa no circuito, a gente ia e voltava andando, naquele pique tudo. A gente ficava moída, curtindo, de virote, sem dormir. Graças a Deus, ano passado eu consegui curtir meu Carnaval”, recordou. Agora, a folia será em casa, com a família, assistindo as lives carnavalescas de nomes como Ivete Sangalo, Cláudia Leitte e Bell Marques.
Quem também vai recorrer às apresentações virtuais pra sentir um gostinho da folia é a estudante Carol Oliveira, de 22 anos. Fã do Chiclete com Banana, a carioca tem uma relação profunda com o Carnaval de Salvador, já que o pai fez parte da diretoria do bloco Coruja. “Acho que o carnaval, além de toda a folia, é uma forma de resistência”, diz.
Nesse novo cenário de Carnaval, sem o fervor das ruas, os foliões não serão os únicos a se adaptar. Produtores culturais seguem promovendo iniciativas por meio da internet, mas queixam-se da ausência de patrocínio de grandes marcas.
A produtora Fernanda Bezerra, sócia da Maré Produções Culturais, relata ter dois projetos de Carnaval digital à espera de custeio: “A gente fez propostas com alguns artistas, mas estamos aguardando o mercado se posicionar. Algumas marcas não querem financiar iniciativas neste período, devido a tudo isso que estamos vivendo. No caso das marcas que apareceram, os recursos são poucos e muito disputados. (…) Ganhamos um breve respiro no segundo semestre do ano passado devido aos recursos da Aldir Blanc, para iniciativas digitais”.
Um exemplo de projeto digital produzido pela Maré e viabilizado pela Lei Aldir Blanc foi a décima edição do Festival Oferendas, realizada entre os dias 1º e 2 de fevereiro, em celebração a Yemanjá. As homenagens à Rainha do Mar também ocorreram de forma diferente neste ano, sem a tradicional aglomeração no Rio Vermelho. O mesmo aconteceu com outras festas populares, como a Lavagem do Bonfim. “Ao terminar o Oferendas, nos sentimos reenergizados em um momento de tantos prejuízos financeiros, sociais e afetivos”, pontuou Fernanda.
Os blocos afros, peças fundamentais do Carnaval de Salvador, vivem situação semelhante. O presidente do Ilê Aiyê, Antônio Carlos dos Santos, o Vovô, afirma que a agremiação planejava realizar uma live no Carnaval, mas voltou atrás após a desistência de um patrocinador. “Está muito difícil. Estamos pensando em fazer a Noite da Beleza Negra, demos entrada no Fazcultura e na Lei de Incentivo à Cultura, mas ainda não conseguimos nenhum parceiro. Estamos na expectativa. A essa altura, nós já estaríamos no pique de entrega de fantasias, costura, preparação de instrumentos”, disse.
Por enquanto, não vai ter live, mas os fãs do Ilê não vão ficar desamparados. Segundo Vovô do Ilê, está mantida a realização do 47º Festival de Música do bloco, viabilizado por recursos da Lei Aldir Blanc. As inscrições já estão abertas por meio do site e vão até 19 de fevereiro. As 16 músicas finalistas serão apresentadas ao público por seus intérpretes em uma live, no dia 14 de março, diretamente da Senzala do Barro Preto.
Fonte Metro1