Numa noite que fatalmente ficará para a história por causa do árbitro de vídeo, o Cruzeiro sagrou-se bicampeão da Copa do Brasil ao vencer o Corinthians por 2 a 1, na Arena Corinthians, em São Paulo, suportando uma pressão de quase 40 mil torcedores. Foi o sexto título celeste, isolando-se como o maior vencedor do torneio criado em 1989.
O VAR (sigla pela qual é conhecida mundialmente o árbitro de vídeo) validou um pênalti que não houve para o Corinthians (Jadson converteu aos 9 minutos da etapa final) e depois anulou um gol regular do próprio Corinthians (anotado por Pedrinho aos 22 do segundo tempo) por ter considerado que houve uma falta na origem do lance. Detalhe: também não foi.
A atuação do árbitro de vídeo foi no segundo tempo do duelo na Arena e fez com que ambos os times contestassem a atuação do Wagner do Nascimento Magalhães. Ele assistiu ambos os lances na tela do lado de fora do gramado.
Mas não é justo que o VAR fique na história como a única lembrança da decisão desta quarta-feira. Ao longo de 90 minutos, o Cruzeiro mostrou porque era favorito à taça. Jogou consciente do que precisava fazer e sagrou-se campeão com justiça.
O primeiro gol do time foi marcado pelo meia Robinho, conhecido pelos corintianos por ter defendido o Palmeiras em um passado recente, aos 28 minutos do primeiro tempo. Foi a conclusão de uma jogada que teve início em falha de Léo Santos.
O segundo gol foi do uruguaio Arrascaeta, que enfrentou 25 horas de viagem –saindo do Japão na terça, fazendo escala em Dubai e chegando em São Paulo por volta das 16h desta quarta-feira– para estar em campo. Ele foi lançado no ataque e finalizou dentro da área na saída de Cássio. Houve falha de novo de Léo Santos. Dessa vez na cobertura.
Como já dito acima, o gol corintiano foi de Jadson em cobrança de pênalti.
Com a confirmação do título, o Cruzeiro juntará essa taça às conquistas de 1993, 1996, 2000, 2003 e 2017. Já o Corinthians foi vice pela terceira vez. Perdeu o título em 2001, 2008 e agora.
SANGUE NO OLHO?
Não falou incentivo nas arquibancadas para que o Corinthians pudesse reverter a vantagem do Cruzeiro na decisão. A torcida formou um mosaico na arquibancada leste com as palavras “Sangue no olho”. Imagens dos rostos dos jogadores pintados de vermelho também ilustraram setores da Arena e os telões. E uma bandeira com os dizeres “Vai Corinthians” tremulou antes do apito inicial.
No entanto, apesar de todo esse incentivo, o time alvinegro não conseguiu colocar em prática o desejo das arquibancadas e durante os primeiros 45 minutos escancarou todas as limitações do elenco.
Em parte culpa de uma confusa escalação do técnico Jair Ventura. Numa tentativa de surpreender o Cruzeiro com a escalação do volante Gabriel, do atacante Emerson Sheik e do centroavante Jonathas, ele acabou deixando o time muito lento e previsível. E facilitou o trabalho cruzeirense, que marcou muito bem Jadson e Romero, anulando os melhores nomes do atual time.
Das três novidades de Ventura como titulares, apenas Sheik deixou o primeiro tempo aplaudido. Nem tanto pela técnica. Foi mais pela raça, por brigar pela bola em todos os espaços do campo e por tentar empurrar e motivar os companheiros. Os outros dois cometeram muitos erros e não justificaram a presença em campo.
BOLA x GOL
Durante o primeiro tempo, o Corinthians teve domínio de posse de bola (65,8%, segundo o TruMedia), mas pouco exigiu da defesa do Cruzeiro. Foram apenas três chutes ao gol e todos para fora. O goleiro Fábio não fez defesa alguma.
Com a vantagem de jogar pelo empate, o Cruzeiro teve uma estratégia mais conservadora. Ficou atrás da linha do meio de campo protegido, sem correr riscos. Mesmo assim conseguiu ser bem mais perigoso do que os donos da casa.
E muitas vezes contando com falhas individuais dos corintianos.
Por exemplo, aos 20 minutos, quando houve a primeira finalização na Arena. Foi em chute de Thiago Neves aproveitando uma bola mal rebatida pelo zagueiro Henrique na marca da meia-lua.
Oito minutos depois, o gol! Léo Santos se enrolou com a bola após uma virada de jogo de Romero da esquerda para a direita. o zagueiro ainda foi surpreendido por Rafinha, que roubou a bola, avançou até o ataque e tocou para Barcos, na entrada da área. O argentino chutou e acertou a trave. No rebote, Robinho dominou ela livre e só teve o trabalho de chutar ao gol.
Novo erro da defesa corintiana quase condenou o jogo de vez. Foi aos 33 minutos. Thiago Neves cobrou falta para a área e a bola foi cabeçada por Dedé, livre de marcação, na pequena área. A sorte corintiana é que ela bateu na trave.
Quase inofensivo, o Corinthians teve apenas um lance próximo de fazer o gol. Foi aos 35 minutos em uma falta cobrada por Jadson na área que teve finalização de cabeça de Henrique, mas a bola foi para fora.
VAR
O árbitro de vídeo acabou se fazendo necessário na final da Copa do Brasil aos 7 minutos do segundo tempo. Foi a única forma de esclarecer se Thiago Neves de fato tocou em Ralf dentro da área, fazendo o corintiano cair, aos 5 minutos.
Inicialmente o árbitro Wagner do Nascimento Magalhães ignorou o lance e deixou a jogada prosseguir. Mas acabou ouvindo seus assistentes de vídeo e foi ao monitor do lado de fora do gramado para assistir ao lance. Decidiu dar pênalti.
Jadson cobrou e empatou a partida. De quebra, findou um jejum de 434 minutos em que o time ficou sem fazer gol.
VAR, PARTE 2
Aos 22 minutos, o VAR entrou em ação de novo e foi para avaliar se um golaço de Pedrinho foi regular não. Em análise estava um lance anterior, em que Jadson e Dedé disputaram a bola e o corintiano acaba tocando no cruzeirense.
Dedé ficou caído no gramado reclamando ter sido atingido no peito.
O árbitro assistiu ao lance do lado de fora do gramado e decidiu não validar o gol e ainda deu falta para o Cruzeiro cobrar.
CRUZEIRO EM VANTAGEM DE NOVO
Passadas as polêmicas do VAR, o jogo voltou com tudo. Jair Ventura fez o Corinthians ficar mais ofensivo. Já havia colocado Pedrinho e colocou depois Mateus Vital. O Cruzeiro, no entanto, não se retraiu.
Aliás, o time celeste usou a pressão pelo resultado contra o rival. Retardou alguns lances, esfriou em outros e criou a oportunidade de fazer o segundo gol. Foi aos 36 minutos. Arrascaeta, que acabara de entrar, foi lançado no ataque. Sem marcação, finalizou na saída de Cássio.
Fonte: ESPN