Com 149 cardeais nomeados por Francisco, a Igreja se prepara para eleger o sucessor do pontífice argentino
A morte do papa Francisco, anunciada nesta segunda-feira (21), marca o início de um dos rituais mais solenes e misteriosos da Igreja Católica: o conclave. Realizado na Capela Sistina, no Vaticano, o processo de eleição do novo papa é cercado de tradição, sigilo absoluto e uma fumaça que, ao se tornar branca, anuncia ao mundo que um novo líder foi escolhido.
O termo “conclave” vem do latim cum clave, que significa “fechado à chave”, referência à clausura dos cardeais durante a votação. Atualmente, o Colégio Cardinalício conta com 252 membros, dos quais 149 foram nomeados por Francisco. Contudo, apenas os cardeais com menos de 80 anos podem votar. O número máximo previsto é 120 eleitores, embora hoje haja 135 com direito a voto – e o Vaticano pode abrir exceções, como já aconteceu no passado.
Antes da votação, o Vaticano atravessa um período de luto de nove dias, tempo dedicado ao velório e sepultamento do papa. Após isso, os cardeais se reúnem na Casa Santa Marta, onde morava o próprio Francisco, que optou por não viver no tradicional Palácio Apostólico.
Durante os dias que antecedem a escolha, acontecem reuniões chamadas congregações gerais, nas quais os cardeais debatem os desafios atuais da Igreja e o perfil ideal para o novo papa. Depois, os eleitores seguem em procissão até a Capela Sistina, onde o conclave começa oficialmente com a missa presidida pelo decano do Colégio Cardinalício, atualmente o italiano Giovanni Battista Re.
Dentro da capela, nenhum contato com o exterior é permitido. Dispositivos eletrônicos são proibidos, e o local é cuidadosamente preparado para garantir o sigilo. Os cardeais depositam seus votos escritos em uma urna, e as cédulas são lidas em voz alta. Se nenhum nome alcançar dois terços dos votos, o material é queimado com uma substância que produz fumaça preta. Quando há consenso, a fumaça é branca – sinal de que “temos papa”.
Assim como fez Jorge Mario Bergoglio ao escolher o nome Francisco, em homenagem a São Francisco de Assis, o novo papa também anuncia como deseja ser chamado antes de sua primeira bênção ao público na Praça São Pedro.
Enquanto a Sé está vacante – o período entre a morte do papa e a eleição de seu sucessor – o Vaticano é comandado pelo carmelengo, atualmente o cardeal irlandês Kevin Farrell, responsável por anunciar oficialmente a morte de Francisco e liderar os trâmites administrativos e litúrgicos.
O Brasil terá papel ativo no conclave. O país possui oito cardeais no Colégio Cardinalício, dos quais sete têm direito a voto. São eles: João Braz de Aviz, Odilo Scherer, Leonardo Ulrich Steiner, Orani Tempesta, Sérgio da Rocha, Jaime Spengler e Paulo Cezar Costa. Apenas dom Raymundo Damasceno Assis, com 87 anos, está fora da eleição por idade.
Em entrevista nesta segunda-feira, dom Damasceno lembrou que a escolha do novo papa é, acima de tudo, um ato de fé. “Não há campanha, não há candidaturas. É uma obra de Deus, uma ação do Espírito Santo”, afirmou. “O conclave é um tempo de silêncio, oração e discernimento.”
Francisco foi responsável por renovar significativamente o colégio eleitoral. Dos 108 cardeais votantes que ele nomeou, muitos são de regiões fora da Europa, reforçando sua visão de uma Igreja voltada para as periferias do mundo.
Atualmente, o Colégio Cardinalício é composto por 114 europeus, 37 asiáticos, 32 sul-americanos, 29 africanos, 28 norte-americanos, oito da América Central e quatro da Oceania. Apesar da maioria europeia, apenas 46,5% desses cardeais têm direito a voto.
A expectativa é de que o conclave aconteça nas próximas semanas, encerrando com a tradicional frase em latim ecoando da Basílica de São Pedro: Habemus Papam.
Fonte: Redação Portal Rádio Repórter com informações da Agência Brasil