“Ele era esperto, brincalhão, amigo para toda a hora”, diz André Gomes sobre João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, espancado e morto por dois homens brancos em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, na noite desta quinta-feira (19), véspera do Dia da Consciência Negra (nesta sexta, 20).
“Peguei meu celular agora de manhã e levei um choque. Éramos amigos desde a infância, nos criamos na mesma casa de religião, no batuque, na umbanda. Ele era tamboreiro. Estou fazendo 39 anos hoje, esse é meu presente”, conta.
João Beto, como era conhecido pelos amigos, vivia numa comunidade na Vila Farrapos, na Zona Norte da Capital. Ele foi agredido e morreu dentro de uma unidade do supermercado Carrefour. As imagens da agressão foram gravadas e circulam nas redes sociais.
“Um cara de boa”, define o amigo Paulão Paquetá, presidente da Associação de Moradores do Bairro Obirici. Os dois moravam a cerca de 200 metros de distância e se conheciam há mais de 10 anos.
“Um cara legal, estava sempre junto de nós. Gostava de sinuca e futebol. Torcia para o São José. Todo fim de semana fazia churrasco pro pessoal do bairro. Era de boa”, completa.
De acordo com o amigo, João Beto trabalhava como soldador, na empresa do pai, e tinha uma enteada. “Ele era da torcida do São José. Sempre que tinha jogo, ele estava no jogo logo cedo”, diz.
Integrantes da torcida organizada do São Jose publicaram uma mensagem em homenagem a João Alberto. Veja o post:
“Na noite de hoje, Beto foi brutalmente espancado e assassinado por 2 seguranças do Carrefour Passo D’areia, há relatos que os seguranças bateram a cabeça dele no chão por diversas vezes e Beto clamava por socorro e pedia para respirar pois estavam trancando a respiração dele com os joelhos nas costas, bem na parte dos pulmões, infelizmente não resistiu a parada respiratória e acabou falecendo”.
Crime
Os dois suspeitos, um de 24 anos e outro de 30 anos, foram presos em flagrante. Um deles é policial militar e foi levado para um presídio militar. O outro é segurança da loja e está em um prédio da Polícia Civil. A investigação trata o crime como homicídio qualificado.
A Brigada Militar, como é chamada a Polícia Militar no Rio Grande do Sul, informou que o espancamento começou após um desentendimento entre a vítima e uma funcionária do supermercado. A vítima teria ameaçado bater na funcionária, que chamou a segurança.
O Carrefour informou, em nota, que lamenta profundamente o caso, que iniciou rigorosa apuração interna e tomou providências para que os responsáveis sejam punidos legalmente.
A rede, que atribuiu a agressão a seguranças, também chamou o ato de criminoso e anunciou o rompimento do contrato com a empresa que responde pelos funcionários agressores.
Também em nota, a Brigada Militar informou que o PM envolvido na agressão é “temporário” e estava fora do horário de trabalho.
Segundo o comunicado, as atribuições dele na corporação são limitadas à “execução de serviços internos, atividades administrativas e videomonitoramento” e “guarda externa de estabelecimentos penais e de prédios públicos”. A Brigada não informou o que ele fazia no mercado.
Homem morreu no local
Freitas foi levado da área de caixas para a entrada da loja e teria, segundo apurou a Polícia Civil, iniciado a briga após dar um soco no PM. Na sequência, Freitas foi surrado.
O vídeo da agressão circula nas redes sociais desde o final da noite de quinta-feira. A polícia vai analisar as imagens do vídeo postado e também de câmeras de segurança do local.
Nas imagens que circulam nas redes, é possível ver dois homens vestindo roupa preta, o que aparenta ser o uniforme dos seguranças, dando socos no rosto da vítima, que já está no chão. Uma mulher que estava próxima deles parece filmar a ação dos agressores. Em seguida, já com sangue espalhado pelo chão, outras pessoas aparecem em volta do homem agredido, enquanto os dois agressores continuam tentando mobilizá-lo no chão.
Uma equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) tentou reanimar o homem depois que ele foi espancado, mas ele morreu no local.
O crime está sendo investigado pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Porto Alegre.