Mãe de garoto afirma que foi orientada por funcionários do Hospital da Criança, em Feira de Santana, a levar filho para UPA, porque ele tinha febre inferior a 39 graus. Menino teve convulsão e morreu.
Familiares e amigos do bebê Brayan Bastos, que morreu há pouco mais de uma semana após sofrer uma convulsão, fizeram um protesto na manhã deste sábado (3), na porta do Hospital Estadual da Criança (HEC), em Feira de Santana.
O grupo cobra respostas para o caso, que é apurado pela Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab) através de sindicância aberta em uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e no próprio hospital.
Os parentes dizem que o garoto foi levado para o Hospital da Criança na última quarta-feira (24), após apresentar febre, mal estar e ânsia de vômito, além de falta de apetite. No local, a mãe dele foi informada que o menino não poderia ser atendido porque estava com temperatura de 38.4 graus, abaixo do exigido pelo protocolo da unidade: a partir dos 39 graus.
Os profissionais teriam orientado a mulher a encaminhar o filho, de um ano e três meses, a uma UPA que fica ao lado do Hospital Geral Clériston Andrade, perto do HEC. [Veja detalhes abaixo]
Grupo protesta na porta de hospital após morte de bebê — Foto: Reprodução/TV Subaé
Os manifestantes questionam a orientação supostamente dada pelo hospital, alegando que há pacientes com quadros graves, incluindo crianças, que não apresentam febre alta. Outras mães que afirmam ter passado pela mesma situação, com recusa de atendimento para filhos doentes, com febre abaixo de 39 graus, marcaram presença e deram apoio à família durante o protesto.
“Estou aqui para representar o meu filho, a minha família, e todos os amigos que estão nessa luta por Brayan. A gente quer saber dessa omissão de socorro, negligência, o porquê eles não atenderem as criancinhas a partir dos 39 graus, como temos visto muitos relatos. A gente quer mudança, a gente quer justiça e a gente vai lutar, enquanto a gente tiver vida”, disse Luciano Gois Barreto, pai de Brayan.
A família do garoto acionou a Sesab na esfera judicial e aguarda resultado do laudo que atesta a causa da morte de Brayan.
Brayan Bastos tinha um ano e três meses — Foto: Reprodução/TV Subaé
Entenda o caso
Em entrevista concedida à TV Subaé, a mãe contou que Brayan foi levado para o hospital, porém, não foi atendido, porque estava com temperatura de 38.4 graus, abaixo do exigido pelo protocolo da unidade, que é de 39 graus em diante.
“A gente chegou no HEC, pegaram o oxímetro e aferiram a temperatura dele. Estava em 38.4 e a moça que estava realizando a triagem me informou que no HEC só estavam atendendo a partir dos 39 graus ou casos mais graves”, detalhou.
De acordo com Natália, ela foi orientada a levar o filho para a UPA próxima ao HEC. No local, ele recebeu medicamentos intravenosos. “Na primeira medicação, ele ficou normal, mas ninguém ficou observando. Eu até mencionei que Brayan nunca tinha tomado medicação na veia”.
“Quando a medicação foi trocada, instantaneamente ele começou a agonizar nos meus braços. De repente, Brayan desfaleceu nos meus braços”, relembrou.
“Coloquei ele na maca, comecei a gritar: ‘meu filho não está respirando’. Os enfermeiros ficavam chamando uns aos outros e eu mesma comecei a fazer a ressuscitação de Brayan. Ele já estava pálido, com a boca roxa”, detalhou a mulher, que chora ao recordar o que aconteceu.
Natália acredita que o atendimento demorou por causa do “despreparo e da inexperiência da equipe de enfermagem”. “A médica também demorou e depois de uns 40 minutos, nós já estávamos no HEC, mesmo hospital que eu tinha ido anteriormente. Eles transferiram para o HEC, mas não me deixaram ficar nem na recepção e depois a médica me falou que Brayan já tinha chegado lá sem os sinais vitais”, relatou.
O que diz o HEC?
“O Hospital Estadual da Criança informa que lamenta o ocorrido e que se solidariza com os familiares. O serviço social da unidade hospitalar está disponível para quaisquer esclarecimentos aos familiares.
Na oportunidade, o hospital informa que segue, para classificação de risco, o protocolo do Humaniza SUS para todos os pacientes que dão entrada na emergência, no qual são avaliados os sinais vitais, incluindo temperatura, sintomas, hemodinâmica do paciente, comorbidades, estado geral e nível de consciência. O HEC é uma unidade de alta complexidade. Pacientes classificados como azul e verde são encaminhados para atendimento em unidades de menor complexidade, conforme a rede de atenção do estado.
Durante todo o tempo, o HEC se mantém sempre disponível para receber o paciente, caso ocorra mudança no estado de saúde, por meio de pedido de transferência.”
O que diz a UPA?
“Cumprindo determinação do Conselho Federal de Medicina (CFM), a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) e suas unidades não comentam casos específicos, preservando a privacidade e ética médica. O respaldo dessa medida também se baseia na Lei de Acesso à Informação, assegurando sigilo por 100 anos para informações pessoais. A direção da UPA Estadual de Feira de Santana lamenta o óbito e está disponível para prestar quaisquer esclarecimentos aos familiares”.
O que diz a Sesab?
“A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) lamenta o óbito de Bryan Barreto e imediatamente abriu sindicância para apurar as causas do ocorrido, o que inclui os protocolos de atendimento na UPA Estadual e no Hospital Estadual da Criança, bem como as condutas clínicas. Reiteramos que o serviço social das unidades encontram-se à disposição para quaisquer esclarecimentos aos familiares.
Na oportunidade, informamos que cumprindo determinação do Conselho Federal de Medicina (CFM), a Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) não comenta ou fornece informações sobre pacientes da rede de assistência estadual.
Essa medida, que resguarda o paciente e equipe profissional, tem amparo no Código de Ética Médica, Capítulo IX, Artigo 75, em que é vedado ‘fazer referência a casos clínicos identificáveis, exibir pacientes ou seus retratos em anúncios profissionais ou na divulgação de assuntos médicos, em meios de comunicação em geral, mesmo com autorização do paciente’. Ainda no Artigo 73, parágrafo único, a divulgação permanece proibida ‘mesmo que o fato seja de conhecimento público ou o paciente tenha falecido’.
Fonte: TV Subaé e G1 Reprodução