Uma idosa de 66 anos perdeu a visão de um olho esquerdo enquanto esperava uma cirurgia para tratar glaucoma, na cidade de Feira de Santana, a cerca de 100 km de Salvador. Dona Josefa Alves de Oliveira teve a doença após combater um quadro de câncer de colo e intestino, descoberto há 2 anos.
Segundo a família da idosa, um dos medicamentos usados no tratamento provocou o aumento da pressão ocular, que configura o glaucoma. Ela descobriu a doença após uma consulta com um oftalmologista, que recomendou a cirurgia, que custa mais de R$ 8 mil.
De acordo com a família, o procedimento consiste na implantação de uma válvula no olho afetado. O Sistema Único de Saúde (SUS) cobre a cirurgia, mas não fornece a válvula, que é a parte mais cara do tratamento.
Sem ter como pagar pelo procedimento, em junho deste ano, a família recorreu à Justiça, que determinou que o procedimento fosse feito pelo estado, em um prazo de 30 dias. No entanto, a cirurgia ainda não foi feita.
Na época em que dona Josefa recorreu à Justiça, ela ainda tinha 60% da visão do olho esquerdo. Contudo, com a demora para a realização do procedimento, a idosa acabou perdendo completamente o sentido.
Em contato com a reportagem, o oftalmologista responsável pela clínica onde dona josefa foi atendida, Hermelino Oliveira, explicou que o glaucoma dela é do tipo neovascular. Segundo ele, a doença surge devido à proliferação massiva de vasos dentro do olho, que começam a entupir o sistema de drenagem do olho, e isso vai produzindo um glaucoma alto.
De acordo com Hermelino Oliveira, o primeiro tratamento é o uso de colírios. Em seguida, é colocada a válvula. Dona Josefa já fez a primeira parte do tratamento, mas aguarda a segunda etapa.
O problema é que, segundo o médico, no caso da idosa, não adianta mais a cirurgia, já que ela perdeu completamente a visão.
“A partir do momento em que não existe mais visão, a cirurgia não tem mais indicação do implante do tubo, conforme foi solicitado para a paciente. Nesses casos, nós temos outras medidas na tentativa de melhorar a sensibilidade de dor dessa paciente. Com relação ao olho direito, há necessidade de uma investigação, para se detectar que tipo de glaucoma essa paciente apresenta. Porque ela pode ter também um glaucoma neuvascular nesse olho, como também ela pode ter um galucoma simples, em que o tratamento clínico inicial vai nortear as condultas futuras”, explicou Hermelino Oliveira.
A idosa teme perder também a visão do olho direito. “Estou com medo mesmo, porque meu olho está ficando turvo. E aí eu tenho medo de perder. Se perder as duas vistas, como vou ficar?”, diz a idosa.
Em nota, a Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab) informou que o Hospital das Clínicas (Hupes), que pertence a Universidade Federal da Bahia, em Salvador, foi autorizado a adquirir a válvula e realizar o procedimento em 16 de agosto.
No entanto, a família de dona Josefa diz que não foi avisada sobre essa autorização. A reportagem entrou em contato com o hospital, que ficou de verificar a situação, mas não respondeu até a publicação desta reportagem.
“Entraram em contato comigo uma única vez. Disseram que eu teria que aguardar, que ela tinha ido para a regulação, e que não tinha previsão de quando mandariam. Então, a doutora que trata ela no hospital em Salvador pediu que eu voltasse com ela em outubro, e que, até lá, fizesse esse procedimento, para amenizar a situação”, disse a filha da idosa, Vera Lúcia Marques Oliveira.
Fonte: G1