A instabilidade política na Itália ganhou na quinta-feira (31)um novo capítulo com o anúncio de que os populistas do Movimento 5 Estrelas (M5S) e o partido de extrema direita Liga chegaram a um acordo para permitir que o jurista Giuseppe Conte possa, enfim, tornar-se primeiro-ministro.
Após o veto imposto pelo presidente, Sergio Mattarrella, aos nomes apresentados para formar o ministério do governo de coalizão, os líderes dos dois partidos eurocéticos, Luigi Di Maio e Matteo Salvini, escolheram um novo ministro da Economia não tão contrário à União Europeia – Giovanni Tria, de 69 anos.
Conte, que não tem experiência política, obteve nesta quinta a aprovação de Mattarella, a quem apresentou sua lista de ministros, e deve tomar posse nesta sexta-feira, dia 1º. Di Maio, do M5S, ficará com a nova pasta de Trabalho, Desenvolvimento Econômico e Bem-Estar Social, reflexo de suas promessas de caráter social, como o salário de cidadania. Salvini, da Liga, será ministro do Interior.
Imigração
Salvini adiantou nesta quinta que “mandar para casa” os imigrantes será sua prioridade. “As portas da Itália estão abertas para as pessoas boas, mas para os que vêm provocar problemas e querem ser mantidos para toda a vida, estes terão uma viagem de ida para casa”, declarou Salvini na cidade de Sondrio, perto da fronteira com a Suíça. Ele também pediu ao futuro premiê que “preste atenção aos ¤ 5 bilhões que este ano serão destinados para ajudar os milhares de imigrantes que estão no país”. “Quero dar uma boa tesourada. É muito dinheiro.”
No domingo, o próprio presidente anunciou o veto ao ministério da coalizão M5S-Liga advertindo que havia risco concreto de que o governo provocasse a saída da Itália da zona do euro e, por consequência, da própria UE. Isso porque o nome escolhido pela coalizão para o ministério da Economia havia sido o do economista Paolo Savona, que em inúmeras oportunidades manifestou seu desprezo pela moeda única e por Bruxelas, além de comparar o governo da chanceler da Alemanha, Angela Merkel, ao de Adolf Hitler.
A nomeação levou Mattarella a retirar então sua aprovação à coalizão, impondo um inédito, mas constitucional, veto aos dois partidos majoritários no Parlamento. No domingo, ele convidou o economista Carlo Cottarelli, ex-Fundo Monetário Internacional, para o cargo de premiê. Mas Cottarelli tinha apenas o apoio do Partido Democrático (PD, centro esquerda) no Parlamento. Na prática, o economista assumiria apenas para gerenciar os assuntos correntes do governo e marcar a data de novas eleições antecipadas.
Nesta quinta-feira, após três dias de turbulências nos mercados financeiros da Europa causados pelas incertezas sobre a Itália, Di Maio e Salvini anunciaram que as negociações para reformulação do ministério de Conte haviam sido bem-sucedidas e a coalizão estaria apta a assumir o poder.
“O engajamento, a coerência, a escuta, o trabalho, a paciência, o bom senso, a razão e o coração, para o bem dos italianos”, afirmou Salvini, no Facebook. “Talvez tenhamos chegado a um acordo após tantos obstáculos, ataques e ameaças.” Na proposta “conciliadora” da coalizão, Savona não será mais ministro da Economia, mas ministro encarregado justamente das relações com a União Europeia. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.