Dias antes de ser preso, em 7 de abril de 2018, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva gravou uma série de vídeos ainda inéditos para serem usados durante a campanha do PT ao Palácio do Planalto.
O cálculo para a produção foi pragmático – como costumam ser seus principais movimentos – e o resultado, ainda sob sigilo, é mais um componente revelador da consciência de Lula de que não vai sair tão cedo da cadeia.
Segundo a reportagem apurou, as imagens foram captadas pelo fotógrafo oficial do ex-presidente, Ricardo Stuckert, e compõem um estoque volumoso do que será seu discurso na disputa de outubro.
Entre os temas, estão a defesa de seu legado e inocência, o enaltecimento das realizações dos governos do PT, com ênfase nos programas sociais, e o enfrentamento de sua situação judicial, que o petista classifica como “injusta”.
Pouca gente teve acesso ao conteúdo dos vídeos, mas dirigentes afirmam que o partido já está se organizando para fazer a divulgação das peças, junto com imagens de arquivo – que foram filmadas antes da prisão.
O início da propaganda eleitoral, com permissão para distribuir material gráfico e fazer divulgações na internet, é 16 de agosto, logo após o prazo final para registro dos candidatos. Os petistas acreditam que, pelo menos até meados de setembro, será possível manter a candidatura de Lula à Presidência da República.
No rádio e na TV, a propaganda eleitoral gratuita começa em 31 de agosto e, no cálculo dos mais otimistas, caso a Justiça Eleitoral torne Lula inelegível em setembro, vídeos com temáticas gerais – como seu legado político e econômico – poderiam também ser utilizados pelo nome que deverá substituí-lo nas urnas.
Hoje os favoritos para o posto são o ex-governador da Bahia Jaques Wagner e o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad. Mas a ordem de Lula é expressa: o partido não está autorizado a discutir o plano B antes de sua inelegibilidade se tornar irreversível.
Integrantes da cúpula petista negam, inclusive, que entre os vídeos ainda inéditos tenham declarações explícitas de apoio do ex-presidente a Jaques ou a Haddad.
A tese de Lula é a de que o PT precisa ter candidatura própria, senão a dele, para construir e defender a narrativa de que sua condenação é uma farsa, e que ele vai lutar para provar sua inocência.
Na semana passada, durante visita a Lula na cadeia, Jaques levou uma chamada do ex-presidente por ter afirmado que o PT poderia indicar um vice na chapa de Ciro Gomes (PDT). De acordo com aliados, Jaques disse que sua fala tinha sido mal-interpretada.
Lula ficou irritado ao saber que o ex-governador havia dito que estava na hora de “ceder a precedência” da cabeça de chapa, mas os dois, amigos há muito tempo, logo se acertaram durante a conversa.
O ex-presidente avalia que o PT não deve fazer acenos exagerados a Ciro neste momento, mas também não pode atacá-lo, já que ambos podem estar juntos no segundo turno.
Jaques é o favorito de Lula para substituí-lo. Ele sabe, porém, que o desgaste das investigações da Lava Jato que atingem o ex-governador pode prejudicá-lo e, nesse caso, Haddad entraria em cena.
Desde que Lula foi preso, sua assessoria divulgou uma animação em que ele narra sua trajetória de vida pública e pessoal, além de vídeos com declarações do petista no Sindicato dos Metalúrgicos, às vésperas de ir para a cadeia.
Na animação, diz que “quem sobrevive depois de passar por tantas dificuldades aprende desde cedo que a honra é nosso bem mais valioso” – essa é uma das tônicas das gravações feitas com ele pré-prisão.
Nos dias em que ficou acantonado no sindicato, antes de ir para Curitiba, Lula gravou vídeos e tirou fotos com aliados, como o governador de Minas, Fernando Pimentel, candidato à reeleição.
Em determinados momentos, relatam alguns dos presentes, a situação chegou a ficar desconfortável. O petista estava a poucas horas de ir para a cadeia e um séquito de políticos ainda fazia fila para tirar foto ou capturar imagens ao lado dele em seus últimos instantes de liberdade.
O comportamento mirava o pleito de outubro. Segundo o Datafolha, 30% dos eleitores dizem que votariam em um nome indicado por ele.
Fonte: Gazeta do Povo