Era quinta-feira, 9 de agosto, quando Joelton Paulo dos Santos, 36, procurou um hospital público em Ilhéus, Sul do estado, com dores nas articulações, febre alta e sangramento na gengiva. Entrou para a fila da Central Estadual de Regulação (CER) 11 dias depois, mas precisou esperar mais de 2 meses para conseguir o tratamento adequado.
O caso de Joelton é triste, mas está longe de ser uma situação isolada. Até a última terça-feira (13), 1.259 pacientes aguardavam na “fila da agonia” por um leito, segundo dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesab). A instituição não informou o tempo médio de espera por uma vaga.
Com medo de que pacientes morram esperando atendimento, alguns parentes estão recorrendo à Justiça para ter o direito à saúde garantido. Quando a massoterapeuta Nelma Barbosa, 32, percebeu que não havia previsão de quando Joelton, seu marido, iria encontrar um leito, procurou a Defensoria em Ilhéus.
“Depois dele ser internado, a gente conseguiu transferir para uma UTI em um hospital particular, sem custo, mas os médicos disseram que ele precisava ser acompanhado por um hematologista. Ele foi levado para o Hospital Regional Costa do Cacau, que não tinha essa especialidade, mas de onde seria mais fácil a transferência para Salvador. Aí entrou na regulação”, contou.
Joelton foi transferido para o Hospital Geral Roberto Santos cerca de 20 dias após Nelma conseguir uma liminar determinando que a Sesab tomasse uma providência. “Mas não adiantou. Fizeram a transferência para cumprir a determinação da Justiça, mas mandaram ele para o Roberto Santos, que não tem hematologista”. A saga da família terminou dia 31, quando, via Defensoria, Joelton conseguiu vaga no Hospital Aristides Maltez.
Internação
Segundo a Sesab, a maioria das solicitações na regulação é por vagas de internação em leitos de enfermaria. As especialidades com maior número de pacientes são cardiologia, ortopedia, neurologia, vascular, obstetrícia e pediatria.
Em Salvador, oito crianças aguardam nos postos municipais por um leito nos hospitais. A Secretaria Municipal de Saúde afirmou que até quarta (14) outros 87 adultos também esperavam vaga em hospitais.
A presidente do Sindicato dos Médicos da Bahia (Sindimed), Ana Rita de Luna, afirmou que a internação precisa ser prioridade. Ela contou que há dois meses o sindicato se reuniu com a Sesab para discutir o problema. “Os médicos que trabalham na regulação enfrentam um nó, porque atendem à demanda da Bahia inteira, desde ações simples até questões mais complexas”.
Representante do Conselho Regional de Medicina (Cremeb), Otávio Marambaia, que também participou da reunião, acredita que “a situação é grave e necessita de um esforço coletivo grande para colocar a Bahia em um patamar decente”. “Não temos o levantamento de déficit de leitos, mas, ao contrário do que diz a propaganda, de que leitos foram criados na Bahia, nos últimos 8 anos 2 mil foram fechados”.
A pasta informou que, desde 2015, foram criados mais de mil leitos na rede e citou a inauguração de novos hospitais, além da contratação de leitos em unidades privadas.