Em solenidade no Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro disse, nesta quinta-feira (10), que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, prepara um parecer para desobrigar o uso da máscara por quem já foi vacinado ou já se infectou com a Covid-19. Médicos infectologistas ouvidos pelo Metro1 criticaram a declaração e a avaliam como perigosa.
“Nenhuma vacina apresenta 100% de eficácia. Isso significa que não há garantia da proteção completa contra a doença”, afirma o médico infectologista e clínico plantonista do Hospital Aliança, Robson Reis. Ele informa que esse é o primeiro ponto a ser considerado pela população, ao pensar no uso da máscara. O doutor em Virologia e farmacêutico da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Gúbio Soares, completa: “a vacina diminui os efeitos colaterais da infecção, evita um caso grave, a morte”.
Além da falta de garantia da proteção integral pela vacina, ainda há a possibilidade de transmissão. “Os vacinados ainda podem transmitir o vírus, mesmo que adquiram a doença de forma mais branda”, explica a médica infectologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Fernanda Grassi. Na mesma linha, Reis ainda acrescenta que os estudos da vacina foram feitos apenas para avaliar a proteção individual do paciente. “Eles demonstram as eficácias para proteger da infecção e não da transmissão”, esclarece.
A orientação é que as pessoas que já foram infectadas também não dispensem o uso de máscaras, instruem os especialistas. “Quem teve a doença não necessariamente vai desenvolver uma imunidade efetiva e duradoura, dura em torno de 3 meses”, indica Reis. “As pessoas que foram infectadas ainda podem ser reinfectadas”, completa Fernanda, citando exemplo de Manaus: “houve uma taxa de infecção altíssima em 2020 e novamente, em 2021, uma nova onda violentíssima, com reinfecção da variante”.
Os especialistas alertam para a gravidade da discussão. “Essa medida é um absurdo, um crime. Se isso acontecer vai ser um desastre”, considera Soares. “Isso não deve ser feito. Os Estados Unidos fizeram porque o país tem 35% da população imunizada com as duas doses, o vírus diminuiu a circulação. Mas aqui não: o vírus continua circulando de forma intensa e nós corremos risco”, explica. Segundo Reis, “até que a situação fique controlada, todos devem continuar utilizando os equipamentos de proteção”.
Além disso, Reis classificou a declaração como perigosa, vindo de um presidente da República, com poder de influência. “Quando saiu esse comentário, diversos pacientes nos procuraram para falar sobre isso. Tem um grande impacto a fala do presidente”, revelou.
Fonte: Metro1