O número de famílias brasileiras com dívidas chegou ao maior percentual da década. O dado é da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor, realizada pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). De acordo com o estudo, o País fechou 2020 com 66,5% de famílias com débitos, maior resultado anual da série histórica, que começou em 2010.
A estatística representa um aumento, em relação a 2019, de 2,8 pontos percentuais no número médio de famílias com dívidas de cartão de crédito, cheque especial, crédito consignado, crédito pessoal, carnês, financiamentos, entre outras. Essa é a segunda vez que os números anuais sobem. Entre 2018 e 2019, houve aumento de 3,3 pontos percentuais.
Outro indicador preocupante é a taxa de inadimplência, que também subiu no último ano. A média percentual de famílias com contas ou dívidas em atraso ficou em 25,5%, enquanto 11% das famílias não tinham condições de pagar os atrasos. Esses dois dados também são os maiores da série histórica. A efeito de comparação, em 2010 o Brasil tinha 20,9% de famílias com conta em atraso e 7,7% de famílias sem condições de realizar os pagamentos.
Para a consultora financeira Catharina Sacerdote, sair desse cenário é uma dificuldade que tem que ser encarada a nível governamental e pessoal, em cada família. Ela ressalta que o número de desempregados interfere na quantidade de endividados, mas aconselha dinamismo para geração de novas fontes de renda.
“É uma fase delicada e é difícil falar para as pessoas serem criativas no momento de gerar renda, mas é isso. É oferecer, talvez, produtos que não sejam comercializados na sua região e buscar apoio do Sebrae para que as pessoas possam empreender melhor e com menos recursos. E aí, dentro de um programa de quitação de dívida, ter um passo a passo, de como organizar essa renda, quitar de maneira estratégica, negociar a taxa de juros”, explica.
O pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Sandro Sancchet, afirmou que o planejamento é ideal para que as famílias possam não se endividar, e aproveitar os rendimentos maiores do final do ano, como o 13º salário, pode ser uma boa fonte de reserva. “Se a pessoa já não conseguiu fazer essa reserva, ela pode tentar buscar uma renda extra e tentar parcelar ao máximo esses gastos ao longo do ano para encaixar esse orçamento domiciliar”. Acompanhe a entrevista completa no “Entrevistado da semana” , do portal Brasil 61.com.
A categoria que concentra mais dívidas é o cartão de crédito, citado por 78% das famílias que disseram ter débitos, seguida por carnês, financiamento de carros e financiamento de casa. Alexandre Henrique de Almeida é pintor e faz parte das estatísticas de pessoas endividadas. Ele avalia que a crise sanitária da Covid-19 impactou de forma considerável os trabalhadores informais, sem emprego fixo.
“Depois da pandemia, a gente ficou sem trabalho, sem conseguir mais nada desde 2020. A gente ainda recebia o auxílio, que ajudava. Mas, agora, sem o benefício não sabemos como vai ficar, porque não temos mais trabalho. Ninguém contrata. Eu trabalho com pintura, sou autônomo, e espero que o governo possa ajudar mais uma vez”, pontua.
A pesquisa também analisou a capacidade de pagamento. Houve avanço de 0,5 ponto percentual em relação ao comprometimento da renda com dívidas, aumentando ainda o tempo médio de comprometimento em +0,3 mês, totalizando 7,2 meses. Para a CNC, isso reflete uma maior escolha de pagamentos com prazos mais longos, como crédito consignado.
O relatório finaliza informando que “a redução dos juros ao menor patamar da história, bem como a inflação ao consumidor controlada em níveis baixos, forneceram às famílias condições de ampliar a contratação de dívidas, como também renegociar as já existentes”.
Fonte: Brasil 61