Pontífice argentino deixa legado de simplicidade, acolhimento e mudanças históricas na Igreja Católica
O mundo se despediu nesta segunda-feira (21) de uma das figuras mais marcantes da história recente da Igreja Católica. Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, morreu aos 88 anos, às 2h35 no horário de Brasília, 7h35 no horário local. A notícia foi confirmada pelo Vaticano. Líder da Igreja por quase 12 anos, ele foi o primeiro papa latino-americano, o primeiro jesuíta e também o primeiro a assumir o posto após a renúncia de seu antecessor, Bento XVI.
Em nota oficial, o Vaticano exaltou o legado de Francisco como um pastor dedicado aos mais pobres e marginalizados. “Toda a sua vida foi dedicada ao serviço do Senhor e de Sua Igreja. Ele nos ensinou a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e amor universal”, diz o comunicado.
Francisco morreu pouco tempo após receber alta de uma internação de 40 dias para tratar uma pneumonia grave e uma infecção polimicrobiana. Nos últimos meses, já apresentava dificuldades respiratórias e precisou ser substituído em cerimônias oficiais. Apesar disso, seguia acompanhando atividades da Igreja até pouco antes de sua morte.
Nascido em Buenos Aires em 1936, filho de imigrantes italianos, Bergoglio se destacou por sua inteligência, simplicidade e senso de humor. Antes de entrar para a vida religiosa, formou-se técnico químico e lecionou literatura e psicologia. Aos 33 anos, foi ordenado sacerdote. Em 2001, tornou-se cardeal pelas mãos do papa João Paulo II.
Seu papado, iniciado em março de 2013, ficou marcado por uma visão moderna e acolhedora, ao mesmo tempo em que mantinha firmeza nos valores doutrinários da Igreja. Francisco trouxe para o centro do debate temas como desigualdade social, direitos das minorias e escândalos de abuso, que abalavam a instituição.
Ele foi pioneiro ao permitir bênçãos a casais do mesmo sexo, incluir mulheres em cargos importantes no Vaticano e dar a elas direito a voto no Sínodo dos Bispos. Também promoveu reformas na estrutura econômica da Santa Sé e se posicionou contra a guerra, a xenofobia e o autoritarismo, criticando diretamente líderes como Vladimir Putin e Benjamin Netanyahu.
Mesmo com avanços progressistas, Francisco manteve posições tradicionais em temas sensíveis como o sacerdócio feminino e o aborto. Essa postura o colocou entre o meio-termo: respeitado por muitos fiéis e não-crentes, mas alvo de críticas por setores ultraconservadores da Igreja.
Em momentos decisivos, como a pandemia da Covid-19, Francisco emocionou o mundo ao rezar sozinho na Praça de São Pedro, deserta por causa do isolamento social. Sua imagem, com o rosto abatido e a batina branca sob a chuva, tornou-se símbolo de esperança em tempos difíceis.
Com o lema “Miserando atque eligendo” — “Olhou-o com misericórdia e o escolheu” — ele governou a Igreja como quem cuida de um hospital de campanha, e não de uma alfândega moral. Para ele, a Igreja deveria acolher, não excluir.
Francisco deixa um legado de empatia, coragem e humildade. E, acima de tudo, de humanidade. Nos próximos dias, a Igreja Católica deve anunciar os ritos funerários e iniciar o processo de escolha do novo papa.
Enquanto isso, o mundo presta homenagem a um homem que usou o poder para servir — e não para ser servido.
Fonte: Redação Portal Rádio Repórter com informações G1