O Instituto Fogo Cruzado, em parceria com a Iniciativa Negra por Uma Nova Política de Drogas, realizou um levantamento chamado ‘100 Dias de Fogo Cruzado na Bahia’, divulgado na manhã desta quinta-feira (10). A pesquisa mostra que Salvador e Região Metropolitana tiveram 443 tiroteios em 100 dias.
Os dados indicam que as ações culminaram em 401 pessoas baleadas e destas vítimas, 304 morreram. Em média, são quatro pessoas baleadas por dia na capital baiana e municípios vizinhos. Do total, 31% das trocas de tiros aconteceram em ações ou operaçoes policiais. Além disso, 113 pessoas vieram a óbito durante tais ações.
O Instituto ainda informou que a capital baiana concentrou três em cada quatro troca de tiros registrados em toda a Região Metropolitana, e teve 72% dos atingidos. Outras cidades que tiveram mais vítimas do que tiroteios e apresentaram um alto risco de letalidade foram: Simões Filho, Vera Cruz, Mata de São João e Candeias.
“Estes são importantes indicadores para a construção de políticas públicas de prevenção a violência. É essencial entender a qualidade dos serviços prestados e quais são estes serviços”, aponta Dudu Ribeiro, Diretor Executivo da Iniciativa Negra por uma Nova Política de Drogas.
Os dados registrados foram coletados entre 01 de julho a 08 de outubro de 2022 e apresentado em relatório no auditório do Museu Eugênio Teixeira Leal, na capital baiana.
Letalidade e insegurança
A pesquisa do Instituto Fogo Cruzado revela ainda que o problema mais grave, da violência armada em Salvador e Região Metropolitana, são os casos de homicídios e tentativa de homicídio. Pois, 47% dos casos foram identificados nessas características.
Além disso, houve registro de troca de tiros em 143 bairros de 12 dos 13 municípios que integram a RMS – somente a cidade de Madre de Deus não registrou este tipo de crime. É importante relembrar que nenhum bairro ultrapassou a concentração de 4% dos tiroteios em seu teritório.
Os números também refletem na sensação de insegurança da população. Dois em cada três trocas de tiros terminaram com alguma pessoa baleada e mais da metade dos casos (55%) terminou em óbitos. Na prática, em quase 10% das vezes, os tiros deixaram 2 ou mais vítimas fatais.
“Sem dados é impossível produzir políticas eficazes que, através dos recursos de inteligência, atinjam de fato o problema. Mas, o mais grave: sem dados, a sociedade não consegue cobrar por essas políticas porque não tem qualquer noção do que acontece nas grandes cidades brasileiras”, destacam Cecília Oliveira, Diretora Executiva do Fogo Cruzado e Dudu Ribeiro, Diretor Executivo da Iniciativa Negra Por uma Nova Política de Drogas, no texto de apresentação do relatório.
Operações policiais
Um em cada três casos de tiroteios acontece em ações ou operações policiais. Os dados também se referem à atuação dos agentes de segurança pública em Salvador e RMS. Esta é a segunda maior causa de troca de tiros na área verificada.
Além disso, há informações sobre chacinas policiais que assimilam aos do Rio de Janeiro: foram registradas 14 chacinas, sendo que 12 aconteceram em ações ou operações policiais.
Dentro desse cenário, foi apontado que o confronto entre facções criminosas é a terceira maior causa de tiroteios em Salvador e Região Metropolitana. Assaltos aparecem em quarto lugar nas dinâmicas mais comuns de violência armada.
Ainda sobre os ataques armados, seja duelo entre facções ou assaltos, as chacinas chegaram a 15 casos em 100 dias, ou seja, um caso por semana.
De acordo com o Instituto Fogo Cruzado, os homens representam 89% do total de baleados e 94% do total de mortos, mais especificamente – e os adultos – 95% do total de baleados – são a maioria das vítimas. De três em cada quatro casos de vítimas de violência armada não há qualquer informação sobre a cor das vítimas. Porém, quando há, são as pessoas negras que surgem como principal alvo, tendo um número 4 vezes superior do que a população branca.
O levantamento ressalta ainda que a tragédia da violência armada não se limita ao perfil acima. Quanto mais frequentes tornam-se os tiroteios, maior o risco para a socieade. Nestes 100 dias, quatro crianças, 12 jovens e seis idosos foram baleados.
Destes, uma criança, nove adolescentes e quatro idosos morreram. O que chama atenção é o alto número de vítimas de balas perdidas (13 em 100 dias) – quase uma por semana. A maioria delas (62%) foi baleada em ações ou operações policiais.
Pelo menos 18 pessoas foram baleadas dentro de casa e 17 em locais de lazer como bares e festas. Os responsáveis pela segurança dos cidadãos, também se tornam alvos da violência armada. Em 100 dias, 12 agentes de segurança foram baleados, 5 deles não resistiram. Dentre os agentes mortos, apenas 1 foi baleado em serviço.
Fonte BNews