Você já leu um livro hoje? A pergunta, aparentemente despretensiosa, na verdade é um convite para visitar a exposição literária que está sendo realizada pela Biblioteca da UniFTC Feira de Santana e quem sabe até ganhar um dos exemplares de romance ou contos. A Semana da Biblioteca e da Consciência Negra, aberta oficialmente segunda-feira (18) e encerrada nesta quinta-feira (21), com uma vasta programação, que incluiu ainda workshop, oficina e apresentações culturais.
Um dos destaques do evento, que envolve ainda os cursos de Enfermagem, Educação Física e Direito, é o Projeto Afrobrasilidades, que movimentou a noite desta quarta-feira (20) com oficina de capoeira, apresentação de maculelê e samba de roda e produção de turbantes, tranças afro e corte de cabelo. Tudo isso em comemoração ao Dia da Consciência Negra, que também foi tema de workshop sobre “Racismo Estrutural” e “Consciência Negra e Vulnerabilidade Social”.
Ao falar sobre a construção do conceito de raça, Bruno Silva, engenheiro civil e estudioso das questões étnicas, citou a filósofa alemã Hannah Arendt, que no livro As Origens do Totalitarismo defende a ideia de que o termo raça surge “para tentar justificar as diferenças que existem entre os diversos grupos humanos”. Segundo ele, do ponto de vista da estrutura genética só existe uma raça, a humana. “Mas, ainda assim, utilizamos a categoria raça como balística para pensar as relações sociais”, disse.
“Pensando nos aspectos psicológicos que se correlacionam com o racismo estrutural, temos o processo de adoecimento psíquico de diversas pessoas negras, por conta do próprio racismo da sociedade, mais especificamente nos ambientes em que a desigualdade é mais identificada”, destacou Suellen Amaral, psicóloga e coordenadora do Núcleo Moverafro de Mulheres Negras. Ela falou ainda sobre o processo de normatização da branquitude, colocada como padrão de vida, enquanto os negros ocupam lugar de subalternidade.
Já Juciara Santos, licenciada em Letras com Francês e também graduada em Psicologia, discorreu sobre a própria vivência, especialmente na vida acadêmica. “Nos sentíamos estrangeiros, pois mesmo nos cursos de menos prestígio era muito rara a presença do negro”, contou. Segundo ela, como mulher negra e trabalhadora, cursou a primeira graduação movida pela paixão pelas letras. Na segunda, uma constatação: “Psicologia é um curso de elite. “Na minha época nem se falava na questão racial”, ressaltou, parabenizando a iniciativa da Instituição em promover o evento.
De acordo com o supervisor da Biblioteca, Makson de Jesus Reis, o elo entre os dois eventos foi a necessidade de promover uma discussão literária e acadêmica a respeito do racismo estrutural e suas implicações na sociedade. “Entendemos que a Biblioteca é o espaço ideal para debater questões que fazem parte da história, como os fatos relacionados à cultura negra”, afirmou o bibliotecário, destacando que a programação contemplou ainda atividades de incentivo à leitura.
Fonte: Madalena de Jesus