De acordo com os dados publicados hoje pelo Banco Central, a taxa de inadimplência das famílias com recursos livres subiu de 5,24% em junho para 5,47% em julho e depois para 5,62% em agosto. As variações foram antecipadas pelo indicador da Boa Vista de Registros de Inadimplentes, que havia apontado alta na comparação mensal de 1,1% em julho e de 1,0% em agosto. Como esperado, a queda observada entre os meses de maio e junho fora pontual.
Na avaliação dos economistas da Boa Vista, as variações tendem a ser mais tímidas até o final do ano. “De um lado, a melhora nos números do mercado de trabalho, com redução do desemprego e aumento recente da renda real, ameniza a situação, mas os juros estão maiores e vemos um crescimento forte em linhas de crédito muito mais caras, como o crédito pessoal não consignado, que até desacelerou um pouco, o cartão de crédito parcelado e o cartão de crédito rotativo. Isso pressiona o orçamento das famílias, adia uma melhora significativa no comprometimento da renda e assim a inadimplência não encontra espaço para recuar de forma consistente. A taxa de inadimplência já superou o pico observado em maio de 2020, de 5,60%, mas ainda está abaixo daquilo que se previu na época, quando, sem considerar o efeito das postergações e dos auxílios do governo, se falava que a taxa poderia ficar próxima de 6,5%”, diz o economista da Boa Vista, Flávio Calife.
A taxa média de juros anual cobrada das famílias continua em alta, passou de 51,51% em junho para 53,93% em agosto quando consideradas somente as novas contratações de recursos livres. Nesse período o custo de captação até diminuiu, em 0,28 ponto percentual, para 12,48%, mas o spread bancário atingiu 41,45 pontos percentuais após subir 2,70 pontos nesses dois meses. As variações no custo de captação devem ser mais tímidas daqui em diante devido ao fato de que o ciclo de alta na taxa básica de juros parece ter chegado ao fim, embora isso não possa ser dado como certo dado que a decisão pela manutenção da taxa, no patamar de 13,75%, na última reunião do Copom não foi unânime. Dois membros do comitê votaram por um aumento residual de 0,25 ponto percentual, mas a maioria preferiu ter um pouco mais de tempo para avaliar o efeito do aumento dos juros sobre a inflação. Já o spread tende a acompanhar mais de perto a inadimplência, algo que já era esperado e tem, de fato, acontecido.
Em relação à concessão de crédito, o crescimento acumulado em 12 meses desacelerou de 26,5% em junho para 24,0% em agosto, tendência que também fora antecipada pelo indicador da Boa Vista de Demanda por Crédito do Consumidor, que nesse período desacelerou de 17,4% para 16,7% no segmento Financeiro. “O crédito se manteve forte e essa desaceleração acontece num ritmo até menor do que havia sido previsto no início do ano, mas é uma tendência que deve ser mantida nos próximos meses”, diz Calife.
Fonte: Liliana Liberato